Acima o piso destruído e, abaixo, o antigo desenho com ladrilhos |
A destruição do piso da Matriz do Divino Espírito Santo, no Centro de Divino, revolta moradores e mobiliza autoridades municipais e estaduais. Na madrugada de segunda-feira, entre as 4h e as 5h, o titular da paróquia, padre José Flávio Garcia, teria mandado um grupo de trabalhadores quebrar e arrancar os ladrilhos hidráulicos do templo católico, construído em 1944. Alertado por populares, o Ministério Público Estadual, por meio da promotora de Justiça da comarca, Jackeliny Ferreira Rangel, acionou a Polícia Civil. Na tarde de sexta, 25, o religioso prestou depoimento na delegacia.
Inventariada pela prefeitura, a igreja já estava em processo de tombamento municipal, informou a secretária do Conselho Cultural de Divino, Andreia Medeiros Chaves. Ela conta que foi comunicada sobre a destruição do piso por volta das 7h de segunda-feira: “Quando cheguei lá, não dava mais para salvar nem um metro quadrado. E o padre evitou qualquer contato conosco”. Em 20 de janeiro, segundo Andreia, o conselho se reuniu para discutir o assunto, movido por comentários de paroquianos de que o padre pretendia trocar os ladrilhos hidráulicos por granito. “Nós o procuramos, mas ele disse que nada disso seria feito, apenas mandaria uma equipe para cuidar da manutenção. Saímos confiantes desse encontro”, relatou Andreia.
RISCOS
Mesmo mais tranquilos, os integrantes do Conselho Municipal de Patrimônio decidiram apressar o tombamento para evitar riscos. No dia 10, notificaram o pároco a respeito do processo de proteção, enviando cópia do documento para o bispo da diocese de Caratinga, dom Hélio Gonçalves Heleno.“Trata-se de uma igreja muito importante para todos os moradores, pois a história da cidade começou onde ela está localizada”, disse a secretária. Na sequência, o conselho vai se reunir para tomar novas medidas.
A moradora e professora de educação física Paula Lana Souza considerou tudo um absurdo. “Sou católica, dizimista e fiquei muito chateada. Estive na missa das 19h, no domingo, e o padre não falou nada sobre a retirada do piso”, contou. Ela disse que nem teve coragem de ver o estrago causado ao patrimônio. “Fiquei sabendo que algumas pessoas, quando viram o entulho amontoado fora da igreja, pegaram pedaços para guardar de lembrança”.
De acordo com informações do MPE, “em tese”, ao alterar aspecto ou estrutura de uma edificação ou local protegido, sem autorização da autoridade competente, o padre infringiu o artigo 63 da Lei de Crimes Ambientais, estando sujeito a pena de um a três anos de reclusão e pagamento de multa.
Para o coordenador da Análise do ICMS Patrimônio Cultural, Carlos Henrique Rangel, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), a atitude do vigário demonstra desrespeito pela comunidade e pela decisão do conselho municipal, que tombou provisoriamente a matriz. “Todos os elementos que compõem a igreja são importantes e a caracterizam. Os ladrilhos hidráulicos do piso estão impregnados de histórias das várias gerações de cidadãos que, ao longo de décadas, frequentaram o templo em atitude de devoção e respeito. É necessário dar um basta aos desmandos daqueles que colocam suas vontades, desejos e preconceitos acima da maioria destruindo a autoestima de um povo”, disse.
DEFESA
O diretor do Conselho de Assuntos Administrativos da Paróquia do Divino Espírito Santo, Elcy Pacheco, defendeu o padre, dizendo, “há algum tempo”, ele havia comunicado aos católicos, durante a missa, sobre o seu projeto. “A matriz está passando por uma reforma geral. Outras igrejas usam o granito no piso, inclusive a Catedral de Caratinga, com um resultado muito bonito. Isso que estão fazendo com o padre é perseguição, pois a mudança foi aprovada pelo Conselho Pastoral Paroquial (CPP)”, disse Elcy. O novo material custou R$ 34 mil aos cofres da paróquia.
Gustavo Werneck - Estado de Minas - Com fotos do Jornal O Campeão de Divino