O texto difícil, carregado da cultura paulista, mas com o mesmo jeito caipira do interior, numa trama muito elaborada. A história de “Hoje é dia de Maria” serve de paralelo para o trabalho dos atores do Teatro Pirquins, em Ipanema (MG). O grupo que se dedicou a obra do escritor Carlos Alberto Soffredini conseguiu superar todos os obstáculos e apresentou um espetáculo primoroso na cidade de pouco mais de 16 mil habitantes.
Hoje é dia de Maria é a viagem, a um só tempo poética e trágica, da inocência de uma menina rumo à maturidade e às descobertas da vida, partindo do nosso folclore, sua peregrinação ultrapassa fronteiras e encontra outros povos, o que é importante e verdadeiro, é universal. Sua mensagem é o esforço humano para manter vivos o amor e a esperança, apesar de tudo.
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O resumo da obra é semelhante a trajetória do grupo de teatro. Com 22 anos de estrada, o Teatro Pirquins encontrou em “Hoje é dia de Maria” um desafio difícil de ser superado. “Esse espetáculo ser lembrado como um avanço na nossa trajetória. Além do figurino e o trabalho na questão do sotaque. A peça exigiu demais e foi muito difícil. Eu acredito que a gente sai revigorado para o próximo e com mais coragem para prosseguir. A luta foi muito grande e difícil, mas nós vencemos”, afirma a diretora Mary Faria.
A comemoração dos atores da peça não é para menos. Foram nove meses para levar ao palco a adaptação do livro, mas sem perder a essência da obra.
Seguindo a trajetória de espetáculos de comédia marcados pela temática do caipira do interior, “Hoje é dia de Maria” marca a maturidade do grupo ao reunir cenografia e figurino diferenciados, atuações marcantes e a utilização de uma linguagem inovadora para quem já havia presenciado outras peças no Pirquins. São cerca de duas horas em que o público é cativado pelas excelentes interpretações e assiste fixamente ao desenrolar da história da pequena Maria.
Para dar conta do recado, Mary Faria conta que ampliaram o teatro, fizeram um acerto de texto grande e investimentos em figurino.
INTERIOR ESQUECIDO
A idéia de fazer “Hoje é dia de Maria” acompanha o trabalho feito com as três peças que relatam a vida no interior: Minas Casos e Coisas, Outras Minas e Pindurassaia.
“O grupo tem como um dos objetivos resgatar o homem do interior, a forma de falar, os hábitos e costumes. Veio a idéia de fazer um outro caipira e buscamos isso no texto do Carlos Alberto Soffredini, que mostra um sotaque mais do interior paulista e do Paraná, mas mantém a aura do caipira do interior”, explica a diretora.
Como estão numa região de divisa com Espírito Santo e isolados de outras manifestações culturais, Mary Faria explica que a identidade local é muito complicada e precisa ser trabalhada: “A cultura é muito afetada e acaba se perdendo aqui no interior. O teatro que nós usamos vem para resgatar o homem e depois expandir para outras coisas. A identificação e a referência de quem somos nós”.
Carlos Henrique Cruz - 23/11/07 - 17:01 - portalcaparao@gmail.com