Na equipe de Luve, Ney é o primeiro agachado no canto esquerdo (Foto: Arquivo Pessoal) |
A semifinal do Campeonato Intermunicipal de Viçosa de 1992 não foi nada fácil para a Luve (Liga Universitária Viçosense de Esportes). As duas partidas contra o Independente de Cajuri foram muito disputadas. Mas Ney Caratinga, volante e capitão, estava inspirado. Depois de sofrer pênalti no primeiro jogo que garantiu a vitória por 1 a 0, marcou dois gols e deu uma assistência no empate em 3 a 3, que colocou o time na final. Ney Caratinga atende hoje pelo nome de Ney Franco.
São raras as imagens dele com a bola no pé. Mas engana-se quem pensa que o hoje treinador do São Paulo, por não ter sido um atleta profissional, só tem conhecimentos teóricos de futebol. Na cidade de Viçosa, onde se mudou para estudar educação física na universidade e deu os primeiros passos na carreira de técnico, o nome dele também é famoso pelo que fez dentro de campo.
Mas a atuação na semifinal foi exceção no quesito gols. Volante, Ney não era de balançar as redes.
Assistências e até algumas cobranças de falta eram os pontos fortes da técnica do volante. Mas outra característica, fundamental para a função de treinador, era visível.
– O Ney já tinha esse dom de comandar desde sempre. O Próspero (técnico) falava o que tínhamos de fazer no vestiário. Mas aí quando a gente entrava no campo, o Ney e o Maninho falavam para a gente fazer mais isso e isso. Não é que ele mudava, mas incrementava as instruções do técnico – relembra Marcio de Souza, o Guru, atacante e amigo de Ney.
Maninho era o parceiro na cabeça da área e, muitas vezes, também fora de campo. A dupla era a que conduzia a Luve dentro das quatro linhas.
Fora, o comando ficava com um trio que incentivou e até hoje acompanha o técnico do Tricolor. José Muanis (diretor da equipe), José Thièbaut (pró-reitor da universidade) e Próspero Paoli (treinador).
Eles que fizeram questão de que Ney Caratinga entrasse na equipe de futebol da Universidade Federal de Viçosa. Isso foi em 1987, quando Ney tinha acabado de ingressar na faculdade, aos 21 anos.
Mesmo sem ser em nível profissional, o treinador são-paulino atribui boa parte de seu conhecimento na relação com os jogadores à sua época de boleiro. Antes de chegar a Viçosa, ele já tinha feito testes no Tupi, mas optou pelos estudos.
Depois daquela semifinal, a Luve sagrou-se campeã ao vencer o Continental por 1 a 0, final que foi vista por mais de 1.500 pessoas. Título que encerrou o jejum da equipe e a carreira do volante Ney Caratinga, aos 26 anos. Formado, ele iniciava a carreira como preparador físico da base do Atlético-MG.
Confira um Bate-Bola com Maninho (Magno Antônio Perim), parceiro de Ney Franco no meio de campo:
Você que jogou ao lado de Ney Franco por um bom tempo, como ele era como jogador?
Ney era perna de pau pra caramba (risos). É brincadeira, era muito bom jogador. Ele sempre foi muito tático, prestava muita atenção ao posicionamento das equipes e a gente comentava dentro de campo mesmo sobre o posicionamento do nosso time durante o jogo. A gente comentava sobre qual jogador poderia render mais em cada um dos lados do campo.
Dentro de campo, vocês dois eram os que mandavam no time?
Próspero era uma pessoa maravilhosa, mas começou com basquete. Ele tinha um conhecimento muito grande de tática no basquete. Quando começou no futebol, a mudança foi radical. Nós, que tínhamos mais experiência, começamos a ajudá-lo. Ele tinha a teoria toda, mas nunca chutou uma bola (risos). A gente ajudava e o que ele falava, às vezes, não era o que acontecia em campo. A gente ajudava e ele tinha a humildade para aceitar. Foi uma convivência muito boa
Naquela época, mesmo sendo jogador, Ney já era dedicado à parte tática do futebol?
Ele sempre teve interesse muito grande pela tática. É um treinador estudioso e muito tático. Acho que a experiencia como jogador foi muito importante para ele. Mesmo tendo esse dom, ele não pensava em ser treinador, foi acontecendo.
- O apelido: Ney Franco nasceu em Vargem Alegre, que fica localizada ao lado de Caratinga, ao leste de Minas Gerais. Quando chegou a Viçosa, o então estudante passou a ser chamado pelo nome da cidade.
“Ele era um jogador muito técnico e obediente taticamente. Uma pessoa de fácil relacionamento, tanto dentro como fora de campo” - José Muanis, Diretor da Luve na época em que Ney era jogador e amigo pessoal do atual técnico do São Paulo.
“O Ney Franco era um ótimo cobrador de faltas. Teve várias partidas que ele decidiu o jogo a nosso favor em cobranças de faltas. Depois dos jogos, o Ney não bebia. Trocava as cervejas por refrigerante” - Guru, amigo de Ney Franco na faculdade e companheiro de time até 1991.
“Primeiro, ele é muito discreto. Então, acabava os jogos e a gente caminhava juntos e ele falava o que achava. Era sempre muito pontual, tinha uma visão de jogo muito boa e um passe longo ótimo” - Próspero Paoli, técnico da Luve, sobre Ney Caratinga.
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