Todas as opções são possíveis e têm vantagens e dificuldades, mas levando em consideração os custos e as intervenções que teriam que ser feitas, o professor e sua equipe apresenta uma opção que combina duas medidas. “A proposta inicial é construir três barragens em cada um dos rios logo acima da cidade. Elas seriam essenciais para conter as cheias. Isso reduziria o risco de inundações para uma a cada cem anos”, afirma o professor.
A equipe propôs que as barragens sejam construídas no rio Manhuaçu acima da Ponte do Evaristo e no rio Manhuaçuzinho pouco acima da foz. No rio São Luis, a medida seria acima de Ponte do Silva. As três barragens foram sugeridas em pontos que os custos seriam menores e a quantidade de água que reteriam seria suficiente para reduzir os riscos para a cidade.
A lógica da proposta é simples. Barragens seriam fechadas para controlar a quantidade de água que passa pela cidade, dando condições de escoamento e evitando inundações.
CALHA FLUVIAL
Nilo Nascimento explica que não adianta apenas construir as barragens. “Elas seriam suficientes para reduzir o impacto, os estragos e diminuir a freqüência de cheias, atualmente na média de uma em cada dois anos, mas não resolvem o problema sozinhas”. A outra alternativa é o aumento da calha fluvial.
Segundo o professor, os estudos dos momentos de maiores enchentes em 1979 e 1997, além de 2003 e 2005, indicam chuvas continuas em vários dias e um volume de água superior a 20 milhões de metros cúbicos. Para se ter uma idéia, a represa em Realeza comporta cerca de 200 mil metros cúbicos.
“É preciso aumentar a calha fluvial para permitir que um volume maior água passe pela cidade e mais rapidamente. A idéia é construir também uma soleira no final trecho urbano (Engenho da Serra) para manter sempre o mesmo nível das águas, inclusive no período de estiagem”, afirma o professor.
Nilo do Nascimento e sua equipe admitem que o processo de interferência no leito do rio tem impactos na forma como a cidade foi construída. Ele fala que seriam necessárias a remoção de algumas construções desocupadas, existentes na margem, em sua grande maioria pequenas edificações originalmente destinadas depósito ou dispensa e a proteção das margens contra aterros e erosão.
“Será preciso avaliar o risco estrutural para fundações de pontes e de várias construções (edifícios) que possuem suas bases junto às margens ou no leito do rio Manhuaçu”, alertou, apesar do trabalho sobre isso depender de estudos mais detalhados. O projeto combinando as duas soluções tem um custo aproximado de 50 milhões de reais.
As outras alternativas apresentadas no relatório incluem a construção de um canal debaixo das ruas na margem do rio para, em caso de cheia, fazer a água fluir mais rapidamente, ou mesmo um túnel atravessando Manhuaçu da região da Ponte dos Arcos até o final da cidade. Apesar de serem possíveis, o professor alerta para o alto custo e o tamanho da intervenção que seria necessária como principais obstáculos.
ALERTA
Além das obras estruturais, a equipe técnica do professor Nilo Nascimento apresentou uma alternativa que pode ser implantada para auxiliar em tudo isso: a implantação de um sistema de previsão e alerta de inundações. “Alguns outros tipos de medidas não-estruturais já foram incorporados ao Plano Diretor do município, como as que restringem a ocupação de zonas inundáveis, tendo em conta o mapeamento de risco de inundação”.
O estudo também sugere que sejam desocupadas as áreas de inundação previstas no levantamento com retorno a cada dez anos. Um benefício complementar é a possibilidade de recuperação ambiental do curso d’água e a melhoria da qualidade ambiental das zonas ribeirinhas, no trecho urbano do rio Manhuaçu.
“O sistema daria tempo para as pessoas e autoridades tomarem providências com uma antecedência suficiente para, em caso de risco de inundação, adotarem-se ações preventivas ou emergenciais, como desocupação de casas e lojas”, explica.
O projeto de alerta é todo automatizado e teria medições nos rios acima da cidade. O custo é de cerca de 130 mil reais.
O próximo relatório a ser divulgado é elaborado pela equipe do Prof. André Luiz Lopes de Faria, da Universidade Federal de Viçosa. Ele aponta medidas que podem ser desenvolvidas na bacia hidrográfica do rio Manhuaçu, na zona rural antes de Manhuaçu.
Os dois estudos fazem parte de um projeto lançado pela ONG Pro Rio Manhuaçu através de uma comissão sobre enchentes e que envolveu um aporte de recursos da ordem de 80 mil reais liberados pelo Prefeito Sérgio Breder em março de 2006.
Carlos Henrique Cruz - 03/01/08 - 09:42 - portalcaparao@gmail.com