Padre Júlio Pessoa Franco |
Professor Eduardo Portilho |
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O médico e acadêmico Fábio Araújo entregou o certificado ao Padre Júlio |
Monsenhor Gonzalez
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MANHUAÇU (MG) - A Academia Manhuaçuense de Letras (AML) se reuniu na segunda-feira, 28, para conhecer a trajetória do Monsenhor José Maria Gonzalez. A história do sacerdote responsável pela construção da Igreja Matriz de São Lourenço foi contada pelo acadêmico Padre Júlio Pessoa Franco.
Aberta pela presidente da Academia de Letras, Abla Slaibi Pereira, a reunião teve a presença de acadêmicos e convidados. Na mesa principal, o Presidente da Fundação Manhuaçuense de Cultura, Fábio Araújo de Sá, o presidente da Fundação Expansão Cultura e Superior da Congregação dos Missionários Sacramentinos, Padre Aureliano de Moura Lima, e o editor do Jornal O Lutador Padre Márcio Antônio Pacheco.
A acadêmica e professora Beatriz Almeida acendeu a chama da sabedoria e, em seguida, o acadêmico professor Eduardo Portilho fez a apresentação do Padre Júlio Pessoa Franco.
“Aprendi muito com o Padre Júlio Pessoa Franco, desde minha infância, quando ele celebrava em Reduto. É com certeza uma personalidade que faz parte de nossa história”, disse.
O professor afirmou que a convivência com o Padre Júlio Pessoa Franco é das mais produtivas para todos que podem desfrutar de seu amplo conhecimento. “A vida do Padre Júlio também é um exemplo para todos nós por sua contribuição periódica, permanente e humilde para a Congregação e para a comunidade manhuaçuense. Um apóstolo verdadeiro, fruto de sua vivência diária do Evangelho”, afirmou.
MONSENHOR GONZALEZ
O momento mais esperado da noite foi primoroso. O Monsenhor José Maria Gonzalez é o patrono da cadeira 17 da Academia de Letras, da qual o Padre Júlio Pessoa Franco é o representante.
A fala do Padre Júlio impressionou deveras, por ter trazido ao conhecimento público muitas facetas e peculiaridades do insigne Patrono da Cadeira 17, Monsenhor Gonzalez. Sua vida foi dedicada à Igreja e sua maior conquista foi a construção da Igreja Matriz de São Lourenço. Foram 11 anos de obras e mais seis até que conseguisse quitar todas as dívidas.
Além de pároco por duas décadas em Manhuaçu, o padre Júlio Pessoa Franco demonstrou que Monsenhor Gonzalez foi também um grande líder e visionário, capaz de difundir seus sonhos para a sociedade há quase cem anos e mobilizá-la para grandes realizações.
Com pouco mais de um mês como pároco, em 10 de agosto de 1917 e com apenas 28 réis (dinheiro da época) lançou a pedra fundamental da Igreja Matriz de São Lourenço.
“Fisicamente esta grandiosa obra é o marco de seu feito ao longo de sua vida paroquiana. Um cartão postal para a cidade e orgulho da população católica. Mas certamente, para aqueles que o conheceram e conviveram ao seu lado, sua humanidade, inteligência e imensa bondade foram os traços mais marcantes”, destacou.
Monsenhor Gonzalez foi um líder carismático, enérgico e acima de tudo, fiel às suas convicções religiosas. Na trajetória apresentada pelo Padre Júlio Pessoa Franco, um dos primeiros desafios de Gonzalez foi superar a discriminação. Negro, ele precisou vencer o pessimismo de alguns frente a proposta de erguer a nova igreja no lugar da antiga construção de pau-a-pique e ainda a barreira do racismo.
Em 1928, a Igreja Matriz de São Lourenço era inaugurada. Monsenhor Gonzalez entregava uma obra que era fruto do trabalho de todos, sem distinção, sem preconceitos.
A trajetória também mostrou outras facetas de Monsenhor Gonzalez. O sacerdote se pôs a visitar doentes e ajudou a salvar muitas pessoas acometidas pela Febre Espanhola. A doença se espalhara na região com o advento da ferrovia, que havia sido inaugurada naquela época.
A amizade e proximidade com o Bispo Dom Carloto Távora também aparece no relato. Monsenhor Gonzalez atuou como visitador paroquial entre os anos de 1930 e 1932. Em seguida, foi nomeado consultor da diocese.
Há registros também do empenho pelo sacerdote em apoiar a cultura, a formação de bandas e corais e até a tentativa de fundar um colégio. Editou o jornal São Lourenço e o Relógio Paroquial, um informativo que circulava todas as semanas na paróquia.
No final de março de 1938, sentido a saúde debilitada, Monsenhor Gonzalez pediu licença da paróquia para cuidar da saúde e foi para o Rio de Janeiro. Em 25 de novembro daquele ano, veio a falecer na capital fluminense.
Seu desejo era que fosse sepultado na Igreja Matriz, mas a paróquia não tinha recursos para trazer seu corpo. Somente anos depois é que foi possível fazer o translado dos ossos e depositá-los no lado esquerdo do templo.
No relato na Academia de Letras, foram apresentadas fotografias e testemunhos sobre o Monsenhor Gonzalez, muitos deles coletados em jornais da época.
Ao final, o Padre Júlio Pessoa Franco destacou que Gonzalez fez a diferença em Manhuaçu: “Muito amado pelo povo daqui, respeitado pelo clero, Monsenhor Gonzalez desenvolveu trabalho dinâmico e fértil, como se pode conhecer através da trajetória aqui apresentada”.
A noite foi realmente memorável. A Academia Manhuaçuense de Letras e o Padre Júlio Pessoa Franco cumpriram seu papel: resgataram a história de Monsenhor Gonzalez. Enfim, acadêmicos e convidados participaram de uma noite de recordações e emoção sobre um sacerdote que faz parte da história de Manhuaçu.
Carlos Henrique Cruz - portalcaparao@gmail.com