DA REDAÇÃO (MG) - A Zona da Mata registrou aumento de 31,1% na captação de órgãos que resultou em transplantes, no comparativo entre 2013 e 2012. No último ano foram efetivadas 180 cirurgias, 56 a mais que em 2012. Os números são da Central de Notificação, Captação e Doação de Órgãos e Tecidos (CNCDO) do MG Transplantes na Zona da Mata.
Marcos Vinícius Queiroz e o irmão, Moisés Queiroz, de Juiz de Fora, estão entre os beneficiados pelas doações realizadas em 2013. Ambos eram portadores de insuficiência renal e, no mesmo dia, em 15 de outubro do último ano, receberam novos rins. “Agora estou retomando minha vida”, diz Marcos Vinícius, hoje com 30 anos. Ele descobriu a doença aos 20, parou de trabalhar e sair, e passou a fazer sessões de hemodiálise, realizadas três vezes por semana e com duração de 4 horas cada. “A hemodiálise é muito desgastante. Quando a sessão acaba, a gente fica muito cansado. Não conseguia fazer mais nada”, lembra. O irmão, Moisés, de 25 anos, descobriu a doença aos 11 e precisou largar os estudos. “Passava muito mal, ficava fraco, zonzo, a pressão baixava. Agora não passo mais por nada isso”, diz.
Segundo o coordenador da CNCDO Zona da Mata, o médico Joseph Frederic Whitaker, a identificação de possíveis doadores é feita por meio dos comunicados de óbito que chegam à Central do MG Transplantes em Juiz de Fora e de busca ativa diária nos hospitais da região que possuem CTI (Centro de Tratamento Intensivo). “Já que os pacientes em morte encefálica estão necessariamente nos CTIs. Nestes casos, a família é primeiramente comunicada sobre a abertura de protocolo da investigação de morte encefálica. Após esse procedimento ser concluído, então a família é abordada com relação à doação de órgão”, explica.
Nos cinco primeiros meses deste ano foram realizadas na Zona da Mata 50 doações de córneas e cinco de órgãos múltiplos. Atualmente, existem na região 200 pessoas aguardando por transplantes.
Manifestar o desejo de doar pode salvar vidas
Hoje, para se tornar um doador, basta que essa vontade seja manifestada para algum familiar. “A comunicação para a família sobre o desejo de doar facilita todo nosso trabalho. É o mais importante, pois evita qualquer dilema com relação à doação dos órgãos, simplifica todo o processo”, destaca Whitaker.
Ele conta que, muitas vezes, a própria família, sabedora desse desejo, já toma a iniciativa de informar ao médico ou enfermeiro do CTI. Nos casos em que a pessoa em morte encefálica não havia feito o comunicado em vida, a captação pode acabar sendo comprometida. “Mesmo que a maior parte dos familiares seja a favor da doação dos órgãos do paciente, se apenas um for contra, o processo é cancelado”, afirma. É levada em conta a opinião dos pais, filhos, cônjuges ou parentes mais próximos.
Iara Lopes Bastos perdeu o irmão, Mauri Lopes, em setembro de 2013 e a família autorizou a doação dos órgãos. “Quando a médica falou que ele tinha tido morte encefálica, eu e meus irmãos nos reunimos e resolvemos autorizar a doação, porque além dele já ter dito que seria doador, o que facilitou bastante, ele sempre foi de doar sangue e estava inscrito para doação de medula”, recorda. Foram doados os rins e as córneas. Iara comenta que tinha medo de que Mauri ficasse deformado com a retirada dos órgãos. “Mas isso não acontece, nem parecia que ele havia sido mexido, ele estava bem e bonito”, diz.
O diretor do MG Transplantes no Estado, Charles Simão, ressalta que o tema precisa ser tratado com naturalidade. “Hoje trabalhamos com o conceito de que o assunto ‘transplante de órgãos’ deve ser abordado com naturalidade pela sociedade, não existindo mais nenhum documento assinado. Consideramos que o mais importante é a conscientização de que doar órgãos é um ato que pode salvar vidas”.
Números no Estado
Em Minas, cerca de 2.500 pessoas esperam por doações de órgãos. Os pacientes ficam inscritos em uma lista nacional, regionalizada por Estado.
Em 2013 ocorreram em Minas Gerais 2.307 transplantes de órgãos e tecidos, atingindo 28.801 cirurgias desde 1992. O diretor do MG Transplantes destaca que a Central Estadual de Transplantes foi a que mais cresceu no país nos últimos seis anos. “Mas ainda há um longo caminho a percorrer e, por isso, devemos inaugurar no próximo ano, uma Unidade Estadual de Transplantes. Esta unidade, além de realizar todos os tipos de transplantes, inclusive os mais complexos, funcionará como um grande centro de formação de profissionais da área de transplantes”, adianta.
Minas Gerais conta, hoje, com 10 centrais do MG Transplantes. Além de Juiz de Fora, possuem sedes: Uberlândia, Uberaba, Montes Claros, Ipatinga, Governador Valadares, Pouso Alegre, Betim e duas em Belo Horizonte.
Agência Minas