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Política

Fidel Castro ajudou Brizola na Guerrilha do Caparaó

20/02/2008 - Atualizado em 22/02/2008 08h57

A renúncia de Fidel não é só o fim do projeto de exportar a revolução por meio da luta armada e do sonho de criar um, dois, muitos Vietnãs, mas também o de um internacionalismo sem paralelo no pós-guerra. El Viejo pôs seus campos de treinamento, homens, armas e médicos a serviço não só das guerrilhas, mas também de governos esquerdistas pelo Terceiro Mundo afora. Foi essa ajuda que despertou na esquerda o sentimento que lhe impedia de criticar o comandante.

Antes mesmo que Che Guevara partisse para o Congo e depois para a Bolívia, as forças especiais do Ministério do Interior de Cuba já estavam na Venezuela, apoiando a guerrilha de Douglas Bravo, em 1962. Foi a primeira intervenção direta dos cubanos em um país latino-americano. O fiasco, que quase isolou Fidel na Organização dos Estados Americanos (OEA), levaria o comandante a não mais repetir a fórmula. A partir de então, Cuba treinava, dava armas, mas não enviava homens. Foi assim em El Salvador, Guatemala, Brasil, Uruguai, Colômbia, Chile e Argentina.

No Brasil, o apoio de Cuba à revolução começou antes do golpe de 1964. O slogan da 2ª Declaração de Havana lançada pelo governo cubano em fevereiro de 1962 embalou toda uma geração de militantes de esquerda. Ele dizia que “o dever de todo revolucionário é fazer a revolução”.

O deputado Francisco Julião, então líder das Ligas Camponesas, estava em Havana naqueles dias. Julião manteve-se em cima do muro, mas o chamado cubano teve acolhida nas Ligas. Três de seus dirigentes criaram um campo de treinamento de guerrilha em Divinópolis (GO). Acabaram descobertos com armas e bandeiras cubanas e uma minuciosa descrição dos fundos enviados por Cuba para a sublevação camponesa. Terminava a primeira aventura de Cuba no Brasil. Era novembro de 1962 e João Goulart ainda presidia a República.

O golpe de 1964 empurrou mais gente para a luta armada. Cuba apoiou os adversários do regime não só com slogans, armas e dinheiro. Mas também com treinamento. O Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), de Leonel Brizola, recebeu dinheiro para montar focos guerrilheiros. O mais famoso tinha cinco homens treinados em Cuba. Era a Guerrilha do Caparaó, desbaratada em 1967.

Depois vieram os militares e operários da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e os comunistas da Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella. Teórico da guerrilha urbana, Marighella procurou apoio de Manuel Piñero Lozada, da Direção-Geral de Inteligência (DGI) cubana. Piñero aceitou treinar os exércitos da ALN, grupos de jovens destacados para aprender guerrilha em cursos de seis meses em Cuba.

Um dos que lá treinaram foi o ex-ministro José Dirceu, para quem o curso era “um vestibular para o cemitério”. Dirceu e seus colegas protagonizaram um dos mais dramáticos episódios da luta armada no País: o fim do Movimento de Libertação Popular (Molipo). Dissidentes da ALN, os jovens do Molipo foram incitados pelos cubanos da DGI a voltar ao Brasil. Um traidor entre eles fez um acordo com o DOI de São Paulo e ajudou a dizimar os colegas. Poucos sobreviveram.

Apesar disso, o general Ochoa, então subordinado de Piñero, ainda propôs a Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o Clemente, comandante da ALN, uma última cartada: o desembarque de uma centena de cubanos no Amazonas. Era 1973. O plano não foi adiante. A maioria das organizações armadas brasileiras estava destruída ou abandonara as armas, caso do MR-8.

No fim dos anos 80, com o declínio das verbas de Moscou, Piñero montou uma rede de militantes de vários países para praticar roubos a banco e seqüestros na América Latina a fim de financiar a revolução. No Brasil, o esquema esteve por trás dos seqüestros do banqueiro Antônio Beltran Martinez (1987), do publicitário Luís Sales (1989), do empresário Abílio Diniz (1989) e do publicitário Geraldo Alonso (1992). Essas ações acabaram transformando-se no símbolo do fracasso do projeto cubano, aquele que prometia revolucionar a revolução. Abandonada pela esquerda, a luta armada tornou-se um fantasma.

Com informações extraídas da reportagem de Marcelo Godoy - O Estado de São Paulo - 12:32 - 20/02/08 

 

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