MANHUAÇU (MG) - A 19ª edição do Simpósio de Cafeicultura das Matas de Minas foi marcada por discussões sobre a utilização de tecnologias de mecanização para a lavoura cafeeira. A tarde de quarta-feira concentrou, inclusive, a apresentação de máquinas, derriçadeiras, colhedoras, tratores e outras novidades para a colheita e beneficiamento dos grãos do café.
A mecanização é tema essencial para o futuro da cafeicultura. Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Embrapa Café participaram com duas palestras e falaram sobre seus estudos, avanços e desafios do setor. Na primeira parte, o professor José Braz Matiello, abordando o terraceamento nas propriedades da região das montanhas. Em seguida, o professor Mauri Martins detalhou as tecnologias disponíveis e alguns lançamentos na área de colheita em terrenos irregulares.
“A mecanização é uma alternativa para a redução de custos de produção, especialmente durante a fase da derriça. Mas a topografia ainda é a maior barreira à mecanização das lavouras cafeeiras”, afirmou o professor da UFV Mauri Martins Teixeira.
De acordo com ele, a mecanização ganha ainda mais importância por conta da crescente escassez de mão-de-obra para realizar a derriça. “Há uma dificuldade de realizar a colheita em tempo hábil. Assim, muitas vezes parte do café termina secando na planta ou cai no solo”, alerta o especialista.
Embora a mecanização possa resolver essa situação, as máquinas em atividade atualmente só conseguem realizar a colheita com segurança em terrenos com declividade máxima de 20%. Por isso, a UFV desenvolveu no seu Laboratório de Mecanização Agrícola uma colhedora de café para região de montanha. A máquina tem estabilidade em terrenos inclinados, boa dirigibilidade e acionamento remoto, via rádio, sem a necessidade de operadores em uma cabine. “Escolhemos um sistema pantográfico para compensar o desnível, com duas rodas direcionais, três rodas para deslocar a colhedora, cilindro derriçador e motogerador elétrico”, explica Mauri Teixeira.
O equipamento está em fase de testes na universidade, mas a meta do especialista é distribuir o projeto para as indústrias ainda neste ano.
TERRACEAMENTO
A cafeicultura de montanha no Brasil ocupa uma área de aproximadamente 600 mil hectares. A produção nesse tipo de relevo está concentrada nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, com algo em torno de 12 milhões de sacas por ano. Isso corresponde a 25% de tudo o que se colhe de café no país.
A beleza da paisagem contrasta com a dificuldade de se trabalhar em um terreno irregular. Seja qual for a tarefa na lavoura, o primeiro desafio é conseguir ficar em pé. Para o grão não descer morro abaixo, o trabalhador improvisa até uma escora para segurar o pano de colheita.
A declividade nas montanhas produtoras de café sempre foi um obstáculo para o agricultor. É o que ressaltou o agrônomo José Braz Matiello. “Desde os tempos passados, quando a colonização foi feita nessa região, o café veio parar na montanha. O terreno é bom, o clima é bom, chove bem. Porque uma parte do dia pega sol, outra não pega. O café gosta dessa meia sombra.”
Para poder mecanizar, Matiello mostrou a construção do que tecnicamente vem sendo chamado de terraceamento. A abertura de ruas (pequenos terraços) entre as lavouras permitem a circulação de máquinas para a colheita e tem vantagens para o trato dos cafeeiros.
Entre as duas apresentações, empresas participantes do Simpósio de Cafeicultura puderam aproveitar o espaço do estacionamento do parque de exposições para apresentar equipamentos, máquinas e implementos que ajudam a colheita e beneficiamento do café, especialmente na redução dos custos.
Carlos Henrique Cruz - portalcaparao@gmail.com