MANHUAÇU (MG) - O Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas começa a implantação do Programa “Redes de Referência da Cafeicultura das Matas de Minas”. A ação foi definida em reunião do grupo gesto e tem por objetivo promover o engajamento dos cafeicultores no esforço que está sendo feito para transformar a cafeicultura regional em um polo de produção cafeeira sustentável, de altíssima qualidade artesanal e de reconhecidos méritos pela comunidade local e pelos mercados interno e externo. Na prática, o objetivo é multiplicar a matriz de qualidade e aproximar os produtores dos padrões esperados pelo mercado.
Iniciado há três anos, o projeto levantou quatro demandas da região. A primeira delas foi a falta de identidade. Daí surgiu a marca Café das Matas de Minas. Em seguida, a necessidade de representatividade e mobilização: foi criado o Conselho das Entidades do setor, reunindo 14 instituições públicas e privadas. O trabalho agora é focado nos dois pilares restantes: a qualidade e o mercado.
De acordo com o Professor José Luís Rufino, na Universidade Federal de Viçosa (UFV), a criação dessa rede de mobilização técnica vai apresentar aos cafeicultores o que se espera em termos de qualidade do café das propriedades rurais envolvidas.
“Conceitualmente, para o Projeto Café das Matas de Minas, uma Rede de Referência é um conjunto de propriedades representativas da cafeicultura regional, que experimentam a vivência comum de um processo de otimização tecnológica, gerencial e mercadológica dirigido à ampliação de sua eficiência e sustentabilidade, conduzido por cafeicultores e técnicos envolvidos em um trabalho conjunto e de elevada sinergia. Sendo assim, as propriedades cafeeiras da rede servem como referência técnica e econômica para as outras unidades cafeeiras por elas representadas”, detalha o professor.
Além de multiplicar o conhecimento sobre qualidade, a proposta viabilizará maior aproximação das instituições públicas de pesquisa, desenvolvimento e inovação regionais – Universidade Federal de Viçosa, Epamig, Emater-MG, Senar, Sebrae-MG e assistência técnica das cooperativas - com as reais necessidade dos cafeicultores, promovendo, crescentemente, melhores e mais eficazes ajustes ao sistema produtivo. Naturalmente, o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas também ganhará mais reconhecimento do segmento produtivo.
Além de workshop que apresentará o detalhamento técnico do perfil da região, foram criados 16 grupos – redes de referência – cada um com responsabilidade de dar assistência técnica continuada a dez produtores em toda a região.
O engenheiro agrônomo padrão Sergio Cotrim D´Alessandro conta que o objetivo é que os cafés que adotam o selo de origem das Matas de Minas tenham padrão sensorial com nota acima de 80 pontos na escala de café da SCAA (sigla em inglês da Associação Americana de Cafés Especiais). A procura por cafés finos cresce com taxa de 15% ao ano, enquanto o comum tem uma taxa de apenas 2%.
“Para atender os dois pilares restantes, a estratégia é juntar os produtores que fazem qualidade e comunicar isso ao mercado para conseguir ao longo dos anos um ágio no produto. Os nossos produtores estão meio perdidos na identificação e nos processos nesse mercado. Queremos que tenham referências para saber como chegar aos cafés com esse padrão de qualidade superior”, detalha D`Alessandro.
SABOR DAS MATAS DE MINAS
O gosto caramelado que se assemelha a rapadura ou melaço e uma acidez cítrica muito agradável são encontrados somente no café das Matas de Minas. Aliado a essas características, o café é produzido de forma sustentável e de modo artesanal, baseado na agricultura familiar. “Isso é só nosso”, garante Rufino.
O professor argumenta que o estudo sobre essas particularidades levou em conta todas as diferenças de altitude das propriedades dos 63 municípios e quase 300 mil hectares de lavouras das Matas de Minas. “A região tem um potencial para produzir um café de qualidade com aspectos de corpo intenso, sabor agradável e uma acidez cítrica excelente. As propriedades nas diversas altitudes da região têm condições de fazer cafés finos de boa qualidade”.
A técnica do Sebrae-MG, Ereni Emerick, conta que outro diferencial é que a produção da região é feita com menor uso de agrotóxicos e utiliza de mão de obra familiar, ou seja, artesanal na produção dos cafés. “Temos que dizer ao mercado essa característica de sustentabilidade ambiental e o uso intensivo de mão de obra familiar. Isso é fundamental para que o mercado remunere, ou seja, pague mais por essas características”, completa.
Para ela, o trabalho capitaneado pelo Conselho das Entidades vai conseguir o envolvimento dos produtores e a disseminação desses padrões de qualidade.
IDENTIDADE REGIONAL
A Região das Matas de Minas foi estabelecida no ano passado como uma origem produtora de cafés especiais, composta por 63 municípios, situada em uma área de Mata Atlântica, no leste de Minas Gerais, envolvendo os polos de Manhuaçu, Caratinga, Muriaé e Viçosa.
A produção é naturalmente sustentável, marcada pela predominância da agricultura familiar, pelo impacto econômico e social direto e indireto e integração natural entre o homem e a mata, fatores culturais presentes na cafeicultura da nossa região.
É uma área pioneira na chamada qualidade artesanal: o trabalho manual e técnicas desenvolvidas pelos produtores da região para se produzir alta qualidade. O resultado deste trabalho é uma diversidade de nuances e sabores diferenciados, presentes nos cafés, que hoje se destacam nas principais premiações nacionais e internacionais.
Carlos Henrique Cruz - carlos@portalcaparao.com.br