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Ato de Benzer: Pesquisa acadêmica busca resgatar tradição regional

16/12/2015 - Atualizado em 16/12/2015 15h36

MANHUAÇU (MG) - Um projeto de mestrado desenvolvido pelo professor de Direito de Manhuaçu, Walter Veloso Dutra, recebeu reconhecimento no 24º Congresso Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, (CONPEDI), realizado na cidade de Belo Horizonte. Com o tema “Tempo, Narrativa e Memória: O Registro do Ato de Benzer como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais”, a pesquisa ficou em segundo lugar dentre 300 projetos que foram apresentados no Congresso.

Walter Veloso Dutra comenta o resultado, que faz parte de um estudo de mestrado que ele vem desenvolvendo há dois anos na Escola Superior Dom Helder Câmara, em Belo Horizonte. “Comecei a pesquisar sobre Patrimônio Cultural Imaterial, que é um legado vivo, diferente do patrimônio tombado. E dentro desta perspectiva veio a ideia de propor que o ato de benzer seja um patrimônio cultural mineiro. Pois é uma tradição característica de Minas e não é registrada. Não existe um plano de salvaguarda para este patrimônio”, explica.

Segundo o professor, após pesquisas envolvendo sua tese de mestrado, que termina nesse ano, ocorreu a premiação do 24º CONPEDI. “Quem consegue enviar material para lá são pesquisadores da área do direito, que já saíram da graduação e estão cursando os níveis de mestrado e doutorado. Inicialmente foram selecionadas 300 pesquisas por todo o Brasil e meu projeto era um deles. O Congresso teve início no dia 12 de novembro e no dia 14, data de encerramento do CONPEDI, foram premiadas as dez melhores pesquisas nacionais e o meu trabalho foi contemplado com o segundo lugar”, disse.

Walter Veloso comenta que o reconhecimento do trabalho visa promover o registro do ato de benzer. “A ideia principal é essa. Quando eu falo de um patrimônio cultural e imaterial, eu falo de uma cultura que não pode se perder. Portanto, o plano é apresentar este projeto a nível estadual para que o ato de benzer, que é uma cultura tão mineira, seja registrado. “Caso esta cultura seja registrada e torne-se um patrimônio cultural imaterial é elaborado um plano de preservação que consiste em ações desenvolvidas para que essa cultura não se perca. Podem haver projetos, cursos de extensão, e fomentos a essas comunidades para que transmitam esse saber e ele não se perca na nossa história”, pontuou.

Pesquisa de Campo

Por ser um estado grande, Walter Veloso teve que delimitar sua área de abrangência para a pesquisa de campo, selecionando os municípios de Manhuaçu, Luisburgo e Caputira.

O professor encontrou benzedeiras que em suas atitudes, palavras e gestos, em entrevistas concedidas para a realização do projeto, demonstravam o desejo de que o ato de benzer não se perca, mas perdure por gerações. “O principal questionamento feito durante a pesquisa tinha o objetivo de compreender se era possível transmitir este saber, que é tão pessoal e ligado à fé. Porque a minha visão é jurídica, eu trago uma visão técnica. Mas ao lidar com essa situação, eu saio da área técnica para ver o movimento de fé dessas pessoas. Durante o trabalho de campo consegui identificar que o ato de benzer tem sido transmitido a outros indivíduos, geralmente parentes como filhos, primos, sobrinhos, netos. Este saber tem sido repassado, porém acho que ele precisa estar registrado como patrimônio cultural mineiro”, ponderou.

Registro de patrimônio cultural

A respeito do registro de patrimônio cultural imaterial, Walter Veloso explica que pode ser realizado tanto no âmbito municipal, estadual ou federal. A respeito de registro a nível municipal, ou seja, em nossa região, o pesquisador desconhece patrimônio imaterial que seja registrado. “Temos patrimônios que são tombados, como casas e outras construções, já em relação ao patrimônio imaterial, que é vivo, eu não conheço na região. Mas a nível estadual existem alguns, como o modo de fazer pão de queijo, que é um patrimônio mineiro, a comunidade dos Arturos, localizada em Contagem, que foi eleita como Patrimônio Imaterial do Estado de Minas, e a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de Chapada do Norte que recebeu o seu registro. Portanto, no momento em que um patrimônio imaterial é registrado a nível estadual existe todo um processo para que essa cultura não se perca. E essa é a ideia para o ato de benzer, pois o registro desta cultura tem por objetivo criar mecanismos para que ela não se perca”, finalizou.

Danilo Alves - contato@portalcaparao.com.br

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