Desde sábado, quando Wellington Martinez, 20 anos, foi preso em Manhumirim, muito se especulava sobre a motivação do crime. Também está detido, mas nega envolvimento, Edmardo Antônio, que foi quem apresentou Bernardo ao seu executor.
Segundo o delegado Cristiano Augusto Xavier Ferreira, da Delegacia de Homicídios de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que há seis meses coordena as investigações, Wellington contou com detalhes como ocorreu o crime, o que comprova sua participação. “Ele explicou todos os passos de como se conheceram e como o crime foi planejado e executado nas duas vezes. A reconstituição foi importante para dar consistência ao que ele falou. Confrontamos a fala com os atos para chegar ao final do inquérito”.
Atrasada em mais de cinco horas, a reconstituição começou próximo a Vila Formosa. Wellington contou que ele e Bernardo foram até o trecho próximo ao corte de pedra e lá atirou uma vez na cabeça do advogado e outra na mão sobre o tórax (quando ele já estava caído). Em seguida, pegou o carro e fugiu até que bateu num muro próximo a SPAM, na Ponte da Aldeia. A tentativa frustada foi negociada em dez mil reais.
Os advogados Helder de Souza Campos e Leandro Campos que assistem Wellington acompanharam todo o procedimento com os policiais civis. Edmardo Antônio nega que tenha participado de qualquer ato e somente os advogado dele Zenith Vasconcelos e o estagiário Helon Heringer assisitiram a reconstituição.
DOENÇA TERMINAL
O delegado explica que não têm exames que confirmem que Bernardo tivesse alguma doença terminal. Segundo ele, apenas Wellington argumenta isso. “O executor disse que foi convencido por Bernardo para que tirasse a vida dele como forma de antecipar a morte e deixar o dinheiro para a família. Ele usou esse argumento, segundo o Wellington, para convencê-lo”.
O delegado não descarta a hipótese de que Bernardo estaria com um quadro depressivo por conta das dívidas de mais de 18 milhões de reais executadas pela Receita Federal e que isso seria um motivo mais forte para ele contratar a própria morte.
Wellington participou da reconstituição colaborando o tempo todo com a polícia e demonstrando muita tranqüilidade. Edmardo cumpriu pena em Manhumirim como pai de Wellington, conhecido como Baiano. “Foi assim que eles se conheceram. O rapaz veio morar na casa do Edmardo e aí conheceu o Bernardo, que já era da convivência da família”, afirmou.
Segundo Cristiano Xavier Ferreira, Edmardo diz que apenas foi procurado uma vez pelo Bernardo para saber se poderia matar ele mesmo, mas nega que tenha participado de qualquer coisa. Para o delegado, as ligações telefônicas, levantamentos e a confissão do rapaz mostram uma história bem mais complexa. “Eu não tenho dúvidas de que os dois participaram da execução. Na primeira vez, o Edmardo apenas foi o mentor intelectual. Ele ajudou a bolar o plano, mas não foi ao local. Na segunda ação, o Bernardo pegou o Wellington na praça do Hospital César Leite e foram para o local do crime, perto de Manhumirim. O Edmardo foi com o carro dele atrás e depois deu fuga para o Wellington”, explicou.
A TESTEMUNHA
Edmardo era tido como suspeito, mas a polícia não tinha provas que o ligassem ao crime. A casa começou a cair durante uma das interceptações telefônicas feitas pela equipe de Belo Horizonte. Ao descobrirem que a ex-esposa de Wellington Martinez sabia dos fatos, ela foi ouvida e acabou confessando o que o ex-companheiro tinha feito. A partir da prisão, ele acusa que Edmardo sabia de tudo e deu suporte ao crime.
A reconstituição, segundo o delegado, é a última parte do inquérito. Ele diz que a história de que Bernardo contratou a própria morte ganhou mais vigor com o depoimento detalhado de Wellington. A polícia também localizou ligações telefônicas do advogado durante várias vezes para o assassino, inclusive na noite antes da execução.
A Polícia Civil também levantou onde e como Bernardo conseguiu os 20 mil reais para pagar por sua morte na segunda ação. Esses detalhes reforçam ainda mais a história de Wellington.
QUEIMA DE ARQUIVO
Como a história beira a um roteiro de novela difícil de se acreditar, o delegado Cristiano Xavier Ferreira explicou que outras hipóteses também foram investigadas, a principal delas a de que Bernardo Mendonça teria sido assassinado por conta das dívidas e o envolvimento com produtores e exportadores de café.
Xavier Ferreira conta que o advogado era executado pela Receita Federal por uma dívida de R$ 18 milhões, por sonegação de impostos e crimes de ordem tributária. Levantamentos apontaram que ele tinha uma empresa de corretagem de café, que seria usada por produtores rurais para sonegação de impostos da venda do produto. “Nós descobrimos que essa prática de usar empresas registradas em nome de ´laranjas´ é muito comum nessa região por muitos produtores, mas essa hipótese foi descartada durante as investigações”, afirmou.
Segundo o delegado, caixas com notas-fiscais e atos constitutivos de empresas de corretagem de café em nome de vários “laranjas” foram apreendidas na casa de Bernardo Mendonça e encaminhadas para o Ministério Público. “Muito café foi exportado e negociado para a Arábia Saudita e para o Canadá a partir do esquema que ele estava envolvido. Contudo, isso vai competir ao Ministério Público e área especializada em crimes de sonegação”, afirmou.
Além disso, o delegado explicou que as investigações ainda geraram informações sobre outros crimes em Manhuaçu e Manhumirim: “Ocorreram roubos de caminhões de café no mesmo período nas duas cidades. Existem outros casos que precisam ser esclarecidos e podem ter alguma relação com esses fatos”.
Carlos Henrique Cruz - Fotos Jailton Pereira - 13/06/08 - 18:45 - contato@portalcaparao.com.br