MANHUAÇU (MG) - Tiras de câmara de ar de pneu de bicicleta usados como elásticos e fios de sacos plásticos no lugar de linhas. Esse era o material que a costureira Maria Márcia Souza, de 51 anos, tinha à disposição para costurar peças íntimas para ela e a família, em Manhuaçu, há 15 anos. Tudo mudou drasticamente depois que ela participou dos cursos do Sistema Faemg/Senar Minas. Hoje ela tem uma confecção em casa e fabrica centenas de peças por mês. “O Senar mudou a minha vida”, garantiu.
O que começou com a possibilidade de fazer as peças em casa com melhor qualidade, e sem precisar comprar em lojas da cidade, tornou-se uma profissão. Mãe e filhas viram na atividade uma oportunidade de gerar renda e ter o seu próprio dinheiro.
Sem nunca ter feito cursos, e sem condições de comprar matéria-prima, Márcia costurava as suas próprias peças e as das filhas com a reutilização de materiais: tiras de câmara de ar, fios de sacos plásticos, tecidos usados em lojas de móveis e forros das antigas calças enxutas.
“Elas foram crescendo com essa dificuldade até que, em 2004, a mobilizadora Isaura, do Sindicato de Produtores Rurais de Manhuaçu, me convidou para fazer o curso de Peças Íntimas. Não perdi a oportunidade. Já estava escrito que era aquele curso que eu tinha que fazer. Aí levei minha máquina no carrinho de mão por dois quilômetros até o local do curso”, lembrou.
Nem a distância nem ela ter passado mal e precisar ir ao pronto-socorro de madrugada na semana do curso a desanimaram. “Eu tinha que completar aquelas horas. Se eu não tivesse feito o curso, se não tivesse voltado do pronto-socorro, não estaria fazendo as peças e minha vida não teria mudado”.
Aos poucos, com a ajuda de amigos e incentivadores, Márcia começou a costurar em casa para ela e as filhas com os moldes do curso. “Tem 15 anos que ninguém lá em casa compra nada em loja. Minha menina casou e nasceu meu primeiro netinho, hoje com dez anos, e também costuramos para ele. E assim começou aquele sonho”.
Evolução
No início, Márcia e a filha mais velha, Cleiciane, saíam de bicicleta com as bolsas de lingerie, a filha com o menino na cadeirinha. Depois passaram a deixar algumas peças na loja do genro, em Vila Nova.
“Deus abençoou que um dia chegou uma pessoa lá que se interessou em nos contratar. Isso em fevereiro de 2013. Mesmo com tudo feito na máquina doméstica, o Juninho – empresário - gostou. Lembro direitinho: a primeira encomenda foi de 800 pares de bojo em tecido vermelho de bolinha”.
Com o tempo, a demanda cresceu, e elas e o empresário foram comprando máquinas e outros instrumentos. “A gente aprendeu o básico. Tinha dia que a gente chorava em cima das máquinas por não saber usar, mas fomos aprendendo sozinhas e continuamos na luta prestando serviço para o Juninho e a Ana Paula, que nos apadrinharam. Hoje aquele cômodo é a minha vida”.
A confecção, que fica na casa de Márcia, foi crescendo e, com o aumento das encomendas, entraram para o negócio a outra filha, a cunhada e a nora de Márcia.
“Agradeço muito a Deus e ao Senar. Para cada coisa que compro lá em casa, dou graças ao Senar. Compro minhas coisas, pago minhas consultas e remédios, não vou mais apanhar café. Ganhamos nosso dinheirinho e ajudamos nossos maridos. Nossas máquinas não têm um centavo dos nossos maridos”.
Realização
Márcia não esconde o quanto gosta do que faz e como o Senar deslocou o rumo de sua vida para um caminho de aprendizado e qualidade de vida.
“Quem mora na roça é considerado lixo pela sociedade, não consegue emprego. Para quem fazia calcinha do jeito que eu fazia, ver o que faço hoje é uma realização muito grande. Não temos vergonha de mostrar para todo mundo e dar de presente as peças que fazemos. Se encaixa nas lojas e as pessoas compram, é sinal que têm qualidade. Devo muito ao Senar. O Senar mudou a minha vida e a da minha família”.
Assessoria de Comunicação Senar