REDAÇÃO - Qual influência uma professora que inicia sua carreira profissional na docência pode exercer na vida de seus alunos?
Numa análise superficial, talvez alguém diga que nenhuma, porém, as lembranças que os estudantes guardam e trazem consigo refletem o tempo de escola e seus primeiros professores. As memórias se mesclam à saudade e os primeiros dias de aula jamais se furtam à recordação de quem um dia esteve sob os olhares de um professor que lhe ensinou as primeiras letras, as sílabas iniciais e as palavras que formaram as frases que fizeram aquela criatura afirmar “eu já sei ler”.
Adirson Teles inciou os primeiros passos na alfabetização no início dos anos de 1970 na, então, Escola Estadual de Luisburgo, atualmente, Escola Estadual Joaquim Knupp, no município de Luisburgo, sua terra natal. Daquele tempo, muitas lembranças e recordações da professora que lhe ensinou as primeiras letras, que se empenhou no ensino daquele aluno que chegou à sua sala de aula antes mesmo da idade regulamentar, mas ela não se esquivou de ensiná-lo e sua dedicação o fez caminhar e descobrir nas letras soltas o texto que se formaria no decorrer dos anos.
No final da década de 1970, ainda em Luisburgo, Adirson Teles conheceu a literatura nos anos finais do Ensino Fundamental, nas aulas de Comunicação e Expressão, ministradas por uma dedicada professora que inciava sua carreira docente com a força e a garra de quem já havia conquistado incontáveis anos de docência. Estimulada pelo amor à leitura e o seu hábito de ter sempre um livro nas mãos, a professora levou aos alunos os primeiros romances dos tradicionais escritores brasileiros.
Entretanto, o que talvez a professora não pudesse imaginar é que aquelas histórias fossem despertar em Adirson Teles o interesse pela leitura, porém, naquela ocasião, a ausência de uma biblioteca ou livraria, no então distrito de Luisburgo, não permitia a leitura frequente e constante. Associada à impossibilidade de acesso aos livros, a falta de recursos financeiros impedia a aquisição dos exemplares, e a leitura por hábito não era uma prática muito aceita pelos pais, que entendiam que os livros necessários eram tão somente aqueles exigidos pela escola.
Então, impulsionado pelo forte desejo de ler e falta dos livros, Adirson Teles começou a criar suas próprias histórias, para que ele pudesse lê-las algum tempo depois. Surgiu, assim, a prática da escrita para que aquele adolescente tivesse algo para ler.
Passados os anos, e não abandonando a prática constante de leitura e escrita, aquele menino que antes não tinha acesso regular aos livros e que buscava vorazmente o que ler, teve o seu primeiro livro publicado, Maré de vento, que marcou a sua estreia na literatura no ano de 1999. A partir da primeira publicação, seguiram-se os demais, sendo editados os livros Pecados e segredos após a meia-noite, Uma vida entre nós, Ferrovia, Devolva-me à vida, A Choupana, Sorriso de mulher, Numa chuva de outono, Maré de vento (reedição), Justo eu?, O trem de doido e a rosa louca e, por último, sendo lançado em 2019, o livro Bafagem.
Num retrospecto, Adirson Teles percebeu nas primeiras ações da professora a descoberta da literatura, o que o estimulou e aguçou a sua criatividade e interesse por ler, escrever e publicar, e sua gratidão e reconhecimento é sempre expresso àquela que, inciando sua carreira docente, marcou de maneira tão positiva aquele aluno que buscava nos livros o alívio daquela vida de luta e limitações. A leitura e a construção da própria literatura tornou-se uma atividade terapêutica, que estimulou a imaginação e a criatividade.
Adirson Teles já prepara o próximo livro, apesar de estar em pleno lançamento do seu trabalho mais recente, lembrando que o que lhe acontece hoje é resultado de uma semente semeada no decorrer dos fins dos anos de 1970 e início da década de 1980.
Então, a resposta para a dúvida sobre qual influência o trabalho docente, mesmo que inciante, pode exercer na vida dos alunos é encontrada e percebida no discurso e nas ações de incontáveis estudantes que jamais se esquecerão de quem lhes ensinou as primeiras letras e os guiou pela senda do conhecimento e da descoberta da possibilidade de mudar o próprio mundo e modificar toda uma tendência de perpetuar o que está posto e o que se acredita ser uma sina ou uma sentença.