MANHUAÇU (MG) - Há 30 anos, a Professora Nair Marques participou de uma mobilização em favor do rio Manhuaçu. Numa das margens, observou uma placa “Morte Lenta” e a reflexão foi ilustrada em um poema, publicado no Jornal Tribuna do Leste daquela época.
Com a enchente de 25 de janeiro e as novas inundações de 13 de fevereiro, trazemos o texto que reforça a preocupação com o tema e nos chama a refletir:
Enquanto o povo " dorme "...
Desperta o gigante...
Despertar
Ao despertar do meu sono;
Preguiçoso, triste, lento;
Ergui meus olhos ...
A dor sufocou meu peito...
Em meio ao entulho da margem;
Para marcar minha imagem;
Alguém que por mim olhara;
Uma frase ali deixara:
" Morte Lenta "
Quanta mágoa! Que tristeza!
Carrego dentro de mim...
Eu que era alegre e caldante;
Hoje sou um rio errante,
Meus peixes são retirantes,
Quando não mortos no leito;
Entulhado e quase seco:
Eis o que sobrou de mim.
Corro chorando em meu leito:
... Morte Lenta, lenta morte...
Ainda arde em meu peito
Mudar toda minha sorte:
Quero voltar a sorrir,
Quero voltar a cantar,
Quero ver os lambaris
Nas minhas águas rolar.
Quero ser bem cristalino
Para o homem em mim banhar;
Oferecer alegria
Àquele que vier pescar.
Não quero sentir saudades;
Quero viver o presente...
Quero toda esta gente,
Voltando os olhos p'ra mim:
Casas de mim AFASTADAS,
As margens desentulhadas,
No leito, a água a correr...
Vida voltando à minha vida:
Alevinos de carás e lambaris,
Cristalinas as minhas águas,
Matando todas as mágoas,
Que existirem em mim.
Nair Marques
22/10/89