REDAÇÃO DO PORTAL CAPARAÓ (MG) - Café especial é um assunto que está sempre nas conversas na região das Matas de Minas, principalmente quando estamos próximos de um grande prêmio de qualidade, o Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para “Espresso”, que este ano chega à sua 30ª edição.
Em entrevista especial, Doutor em Agronomia, especialista em qualidade do café e consultor científico da illycaffè, Dr. Aldir Alves Teixeira, Presidente da Comissão Julgadora, relata uma pouco da história do Prêmio e como essa trajetória se entrelaça com a evolução da produção de cafés especiais no Brasil e, principalmente, na Região das Matas de Minas.
As inscrições para o 30° Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso estão abertas até 11 de setembro. Foi o primeiro e continua como o maior concurso do gênero no Brasil.
Desde 1991, o Prêmio Ernesto Illy distribuiu mais de R$ 5,6 milhões a cerca de 1.500 produtores, consolidando-se como um marco na cafeicultura brasileira para a produção de qualidade sustentável.
Dezenas de produtores da Região das Matas de Minas foram reconhecidos pela qualidade de seus cafés e a adoção de práticas sustentáveis em suas fazendas. Rafael Marques de Araújo, produtor de Manhuaçu, nas Matas de Minas, foi um dos vencedores da 28ª edição. Raimundo Dimas Santana Filho, com familiares em Nova York, foi premiado no Prêmio Ernesto Illy Internacional em 2018.
Confira a entrevista:
O Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso está completando 30 anos de existência. Quais foram as motivações para a criação do concurso?
Dr. Aldir Teixeira: A principal motivação foi a ideia de lançar um prêmio de qualidade para ver se o Brasil tinha condições de produzir esses cafés e que pudessem compor o blend da Illy. O resultado foi tão auspicioso, que, a partir daí, nunca mais a Illy teve problemas em encontrar cafés de qualidade, sempre em volumes maiores, sabendo ainda que pelo menos 50 % do blend é de café brasileiro.
Qual a avaliação dessa trajetória do concurso nessas três décadas? Já que foi um dos prêmios pioneiros quando mal se falava sobre qualidade de café no Brasil?
Dr. Aldir Teixeira: A trajetória foi extremamente vitoriosa. Descobriu-se que no Brasil também existe café de qualidade. Aliada à qualidade também houve um estímulo, pagando-se mais por esse café.
Em especial, a região da Zona da Mata era conhecida por cafés de qualidade inferior, carregou a fama dos cafés Rio-Zona durante muitos anos. Nos últimos 20 anos, esse cenário mudou para cafés premiados das Matas de Minas, reconhecidos pela origem e outros atributos.
Dr. Aldir Teixeira: Realmente a Região das Matas de Minas, antes conhecida como Zona da Mata, foi uma das regiões que mudaram completamente com o Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso. Até então, todo café produzido era preparado pela via seca, hoje conhecido como café natural. O fruto que seca por inteiro.
A alta umidade da região estragava o café na própria árvore, dando o café conhecido como rio-zona. Com o descascamento, ou seja, com a colheita do fruto cereja e o descascamento no mesmo dia, descobriu-se o verdadeiro potencial da região.
A região das Matas de Minas se projetou rapidamente pela alta qualidade do café produzido, principalmente nas regiões de maior altitude.
Quais as principais mudanças que o senhor percebeu, nesses anos, em relação aos produtores e ao café das Matas de Minas?
Dr. Aldir Teixeira: O cafeicultor se sentiu estimulado pelo preço maior de venda e passou a se aprimorar na produção e no preparo de cafés de qualidade, inclusive com sustentabilidade.
Fazer café de qualidade é para todos? Quais as orientações / sugestões que o senhor tem para os produtores que buscam investir em qualidade – da planta até a xícara?
Dr. Aldir Teixeira: A qualidade do café arábica está na árvore. O cafeicultor precisa seguir todos os passos, desde a colheita até o café estar seco e bem armazenado. Desta maneira, deve colher só café cereja, descascar no mesmo dia e conduzir a seca desde o início em camadas finas e revolvimento constante.
No final da tarde, enleirar no sentido da declividade. Só no dia seguinte, começar a rodar de novo o café o dia todo, sem parar.
Se a seca for completada no secador, nunca ultrapassar os 35 graus centígrados na massa do café. O café deverá ser colocado nas tulhas com 11% de umidade ou 9% na ISO 6673.
As tulhas devem ser isoladas, bem ventiladas, temperaturas não superiores a 22 graus centígrados, inclusive na parte superior, sem umidade e totalmente no escuro.
Além do concurso, a illycaffè também desenvolve outras ações visando disseminar a cultura de qualidade do café? Quais iniciativas abrangem as Matas de Minas?
Dr. Aldir Teixeira: A illycaffè mantém técnicos no campo para visitarem os cafeicultores e dar orientações no preparo de cafés de qualidade. Eles realizam visitas para poder credenciar as propriedades como sustentáveis sob o ponto de vista econômico, social e ambiental. Eles ainda dão orientação na aplicação das boas práticas agrícolas.
Para as novas gerações, pensando na sucessão familiar nas fazendas produtoras, qual o conselho que o senhor daria?
Dr. Aldir Teixeira: Sugiro que as novas gerações procurem aprender com os pais e buscar novas tecnologias e novos conhecimentos, visando o lucro e o bem estar familiar.
Em tempos de pandemia do novo coronavírus, onde estão sendo impostas restrições e exigências de higiene mais rígidas, o chamado “novo normal” vai exigir mais qualidade dos cafés brasileiros, especialmente no cenário internacional?
Dr. Aldir Teixeira: O aparecimento dessa terrível doença está trazendo novos ensinamentos de como viver e conviver com essas situações extremas. O cafeicultor rapidamente tomou medidas importantes como o transporte dos empregados em menor número, os refeitórios mais espaçados com uso de máscaras e a higiene pessoal, com lavagem constante das mãos e uso do álcool gel. Na lavoura também está sendo mantido um maior distanciamento dos empregados na colheita e preparo do café. Todas essas medidas, somadas ao bom preparo do café, têm mostrado ao cenário internacional que temos condições de produzir cafés seguros e de alta qualidade.
Carlos Henrique Cruz - carlos@portalcaparao.com.br