BELO HORIZONTE (MG) - O atacante Samuel é novato na Toca I e chegou para integrar o time sub-17 do Cruzeiro há uma semana. De origem humilde, o jovem de apenas 17 anos cresceu e foi criado em uma comunidade do bairro Palmital, em Lagoa Santa, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Como muitos garotos e garotas que amam o futebol, ele sonha com voos altos em sua carreira profissional.
Trabalhando para chegar aos seus objetivos particulares, o desejo do garoto sempre foi apoiado pelo pai, o senhor Claudinei Heraldo dos Santos, e da mãe, Janete Magela Lúcia Santos, a quem Samuel fez uma forte e emocionante promessa.
"A minha mãe faleceu quando eu tinha de 13 para 14 anos. No enterro, cheguei perto do caixão e prometi a ela que um dia eu vestiria a camisa de um grande clube, e me tornaria jogador profissional", disse ao UOL Esporte.
"Esse caminho está cada dia mais perto, com muito trabalho e dedicação, sempre buscando dar o máximo. Farei isso com a camisa do Cruzeiro pela oportunidade", completou o jogador, que também foi analisado pelo Palmeiras antes de acertar com a Raposa.
Muito apegado à família, Samuel tem na figura do pai um forte apoiador. "Meu pai é um cara batalhador. Sempre me ajuda, me motiva cada dia mais para que eu siga em busca do meu sonho, que sempre foi o sonho dele e da minha mãe", falou.
Ex-morador de uma comunidade, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde o crime acaba abraçando muitos jovens, Samuel correu por fora para não entrar nessa triste estatística.
"Morei em Lagoa Santa, no no bairro Palmital. Tenho muito orgulho de lá. As pessoas olham para lá com olhos diferentes por causa da criminalidade e acham que dali só sai traficante. Hoje estão podendo vivenciar o que eu estou vivendo, por chegar a um clube gigantesco. É gratificante mostrar o contrário da história, que dali saem pessoas do bem, com caráter, com humildade e que podem vencer na vida, atingir grandes objetivos", comentou, falando de sua trajetória até chegar ao futebol.
"Comecei em um projeto para tirar os garotos da rua, das drogas, dar para eles um sonho e levá-los para a igreja para ouvir a palavra de Deus, que é sempre boa. Brincando, eu não levava muito a sério, não tinha expectativa de me tornar um jogador profissional, porque minha condição era pouca e a perspectiva do lugar onde a gente vivia não era boa. Isso atrapalhava um pouco, mas com toda a humildade eu estou alcançando meus objetivos e tenho orgulho de dizer de onde eu vim", emocionou-se.
Ex-atleta do Boston City FC, clube fundado por um mineiro em terras norte-americanas, com filial em Manhuaçu, no interior de Minas Gerais, Samuel ainda está em período de adaptação na Toca I, mas já foi convocado para o seu primeiro jogo.
Samuel foi convocado por causa de casos recentes de covid-19 no elenco sub-20.
"Minha expectativa é ajudar o Cruzeiro, que tem dado a mim essa oportunidade de viver um sonho, porque isso que eu estou vivendo, um sonho. Um garoto que saiu do nada, veio da favela, da comunidade, conseguindo espaço em um clube gigante. É gratificante. Graças a Deus e à ajuda das pessoas do Boston, que foram importantíssimas para que eu pudesse alcançar um dos meus objetivos, que era chegar a um clube gigante como o Cruzeiro. O Alberto Oliveira [diretor de futebol do Boston FC], o Renato Valentim [CEO do Boston FC], o Ademir Carvalho [responsável pela captação do jogador ao Boston], pessoas que considero muito e que confiaram no meu potencial. O Ademir me buscou e me olhou com olhos diferentes, e me deu confiança para que eu jogasse e buscasse meu espaço", revelou.
Os direitos econômicos do atacante Samuel estão divididos em 50% para o Cruzeiro e a outra metade do Boston FC. O clube celeste tem a prioridade de compra de mais 20% do atleta caso tenha interesse após um período determinado em contrato.
Do UOL, em Belo Horizonte (MG)