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Manhuaçu 146 anos: a história do surgimento do município

05/11/2023 - Atualizado em 06/11/2023 09h40

MANHUAÇU (MG) - Neste domingo, 05/11, Manhuaçu completa 146 anos de sua emancipação política. Na reportagem especial, o Portal Caparaó traz o histórico do movimento arquitetado por lideranças políticas daquela época para dar ao então povoado de São Lourenço do Manhuassú a sede do município recém-formado. Inicialmente, a sede era em São Simão (atual Simonésia).

As informações que auxiliaram na composição desse histórico foram baseadas em um vasto trabalho de pesquisas, realizado pelo senhor Ary Nogueira da Gama e também do livro “Manhuaçu Rio e Município” do escritor José Olinto Xavier da Gama.

Desmembramento de Ponte Nova

Quatro anos antes da criação do novo município, já se sentia um movimento entre a população de todo o vale de Manhuaçu por sua emancipação do município de Ponte Nova. Antes disso, no ano de 1866, o povoado de São Simão, hoje Simonésia, foi elevado à categoria de distrito de Ponte Nova. O mesmo acontecendo com o povoado de São Lourenço no ano de 1873. Nesta época ainda São Lourenço de Ponte Nova, que depois alterou o nome para São Lourenço do Manhuassú, atual Manhuaçu.

Criação do Município de Rio Manhuassú

A população crescia a cada ano e o desenvolvimento da região era notado pelas autoridades da então Província de Minas Gerais. A questão da demarcação da fronteira entre esta província e a do Espírito Santo também motivava a oficialização destas terras para o povo mineiro. Deste modo foi criado o Município do Rio Manhuassú, desmembrado de Ponte Nova pela Lei 2.407 de 5 de novembro de 1877 e promulgada pelo presidente da província, João Capistrano Bandeira de Mello. O novo município abrangia uma grande área que ia do Alto Carangola até além do Rio Doce, na região do Rio São Mateus.

Deu-se o nome de município do Rio Manhuaçu porque as duas vilas existentes ali, São Lourenço de Manhuassú e São Simão não ofereciam condições de instalação de uma cidade. Porém, devido à influência do Coronel Ardelino de Carvalho que residia em São Simão junto às autoridades em Ouro Preto, a sede foi para este povoado, cometendo-se assim uma injustiça, já que São Lourenço do Manhuassú era um centro populacional maior.

Foi nomeado o primeiro conselho municipal, sendo escolhidos para integra-lo como presidente e Agente Executivo Joaquim Gonçalves Dutra e demais membros: José Marcellino de Paula, Francisco Moreira Bastos, Francisco de Assis Toledo e Joaquim da Silva Araújo. Uma das primeiras preocupações do Agente Executivo foi o de melhorar as comunicações dentro de sua área de abrangência, mas a falta de estradas no imenso município impediu a instalação dos distritos.

São Lourenço do Manhuassú continuava crescendo muito mais que outras povoações da região e não se conformava com a escolha da sede para São Simão, deste modo um sentimento emancipacionista surgiu entre sua população. Este movimento cresceu e teve repercussão em toda a região. Apenas sete dias após a promulgação da lei que instituiu o município aconteceu uma reunião na residência do tenente-coronel Antônio Rafael Martins de Freitas, que se tornou líder deste movimento. A reunião foi organizada pelo padre Januário Portas e nela foi eleita uma comissão destinada a promover a construção da casa da Câmara e a cadeia, sendo escolhidos ali mesmo os procuradores incumbidos da coleta de donativos, destinados a cada um deles uma região. Isso se fazia necessário para preparação do povoado em receber a sede do município em uma pretensa transferência de São Simão.

Os esforços iniciados nesta reunião não ficaram limitados somente ali. Eles foram apoiados por personalidades de destaque da freguesia, como Luiz Antônio Cerqueira, que fez doação de grande terreno para construção da Paróquia. Antônio Joaquim Sellos e padre Fortunato de Souza Carvalho, que foi nomeado primeiro vigário em fevereiro de 1878, também se uniram ao movimento.

Os líderes emancipacionistas promoveram ainda mais melhorias ao povoado, como a construção de inúmeras casas na margem direita do rio Manhuaçu, demarcaram nova área para o cemitério, construíram um chafariz na praça, reformaram pontes e locaram ruas. Esta comissão cumpriu verdadeiro programa de obras públicas em São Lourenço do Manhuassú, demonstrando seu espírito progressista.

Mas os líderes políticos de São Simão não ficaram alheios àquele movimento e trataram de promover suas próprias articulações para que a sede do município permanecesse naquele povoado. Eles eram liderados por Alexandrino Teles e Ardelino Augusto de Carvalho, que possuíam em seu favor o apoio do cônego Teles, que era conservador e possuía bastante influência junto às autoridades da capital da província.

São Lourenço do Manhuassú

A força de São Lourenço de Manhuassú se fazia maior com as suas influentes personalidades, como Francisco de Paula Santos, que conquistou a simpatia de José Cesário de Faria Alvim Filho, importante político que interferiu na disputa entre os dois povoados, favorecendo aos anseios da população de São Lourenço. Deste modo, em 3 de janeiro de 1880, o então vice-presidente da Província de Minas Gerais durante seu exercício interino sancionou e fez promulgar a Lei nº 2.557 que transferia para o distrito de São Lourenço do Manhuassú a sede do município do Rio Manhuaçu e elevando o povoado à categoria de vila. E para provimento dos cargos eletivos procedeu-se a primeira eleição municipal em 1º de junho de 1880, sendo eleito para Agente executivo Joaquim Gonçalves Dutra.

Em 4 de novembro deste mesmo ano, o vice-presidente da província promulgou a Lei nº 2.665 que criava a Comarca do Rio Manhuaçu, que era composta também de Santa Luzia do Carangola.

Em 13 de setembro de 1881, através da Lei nº 2.766 a vila de São Lourenço do Manhuassú foi elevada à categoria de cidade, contando seu município com seis distritos: Santa Margarida, São Simão, São João do Caratinga (atual Caratinga), Vermelho (atual Vermelho Novo), Santa Helena (atual Caputira) e a sede São Lourenço do Manhuassú (Manhuaçu). E Joaquim Gonçalves Dutra, empenhado na organização do município instalou os distritos de São Sebastião do Sacramento, Senhor Bom Jesus de Pirapetinga (Manhumirim) e Rio José Pedro (Ipanema).

Café

Em 1905, a produção cafeeira da Zona da Mata era significativa, sendo Carangola o maior produtor, com 1,5 milhão de arrobas. Contudo o Rio de Janeiro ainda era o maior produtor nacional, até que a hegemonia fluminense entrou em decadência e foi superada por São Paulo, que antes estava atrás de Minas Gerais. Entre os anos de 1880 e 1930, o café ganhou força na região mineira, foi nesse período em que se desenvolveu a produção de Manhuaçu.

República Manhuassú

No ano de 1896, a disputa pelo poder local entre dois coronéis, Serafim Tibúrcio da Costa e Frederico Antônio Dolabela, teria provocado consequências negativas na economia.

Após perder as eleições de modo considerado fraudulento, o Coronel Serafim Tibúrcio e seu companheiro Coronel Antônio de Miranda Sette pegaram em armas, proclamando a República de Manhuaçu, inclusive emitindo títulos de crédito em nome da Fábrica de Pilação de Café e nomeando autoridades. A polícia estadual não conseguiu superar os coronéis Tibúrcio e Antônio de Miranda e seus homens. Com o apoio das forças federais, o levante foi derrubado e os revoltosos fugiram pelo vale do Manhuaçu, fundando pequenos povoados como Alegria de Simonésia e até alguns no Estado do Espírito Santo.

Apesar das disputas políticas e das dificuldades, no final do século XIX e início do XX, a população de Manhuaçu já dispunha do jornal O Manhuaçu (criado em 1890), da Estrada de Ferro Leopoldina (1915), da Companhia Força e Luz de Manhuaçu (1918) e do Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais (1920). Ainda hoje, vários casarões dessa fase estão de pé e abrigam famílias, empresas e entidades, no trecho antigo da cidade.

Durante o último século, famílias italianas e das comunidades árabes se mudaram para Manhuaçu, ampliando a diversidade iniciada com a vinda de suíços, franceses e alemães, além de povos de origem africana, indígenas e portugueses que já compunham a população local.

Alteração de grafia

Manhuassú teve sua grafia alterada para Manhuaçu, pela lei nº 336, de 27 de Dezembro de 1948.

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