REDAÇÃO - A companhia franco-brasileira NetZero anunciou nesta quarta-feira (27/3) a parceria com o fundo de investimentos de impacto STOA, que entrará com 18 milhões de euros para escalar industrialmente a produção de biochar, uma espécie de condicionador de solo biológico à base de biomassa.
O Brasil é o mercado prioritário no uso do recurso. Ainda este ano, a companhia vai construir no país quatro plantas para produção do biochar e outras dez em 2025. “Os investimentos serão divididos para a construção da estrutura corporativa e para P&D (pesquisa e desenvolvimento) que vão dar sustento ao crescimento da empresa”, afirmou à reportagem o CEO da NetZero, Axel Reinaud.
Todas as unidades em construção para 2024 utilizarão 100% de cascas de café na produção de biochar, mas a partir do ano que vem, outras biomassas, como cana-de-açúcar, cacau e arroz serão adicionadas à cadeia de produção.
“A colheita da cana-de-açúcar no Brasil é muito grande, especialmente em São Paulo. O potencial para transformá-la em biochar é maior que o de café”, explica Olivier Reinaud, sócio-fundador da Netzero e filho de Axel Reinaud.
Enquanto as outras plantas são construídas, a startup opera em Lajinha (MG), desde abril do ano passado. O investimento para a construção da fábrica mineira, na época, foi de cerca de R$ 20 milhões.
A unidade processa 16 mil toneladas de biomassa por ano e produz 4 mil toneladas de biochar ao ano, o que atende até três mil hectares. O fornecimento é feito por 400 produtores associados à Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé).
Para produzi-lo, a startup usa resíduos agrícolas que seriam descartados e gera uma forma de carbono estável a partir de um processo de combustão. Depois, o produto biológico pode ser aplicado no solo como um complemento ao fertilizante.
“O biochar é um carvão vegetal com propriedades diferentes do carvão vegetal do churrasco”, diz Pedro de Figueiredo, diretor-técnico e representante da companhia no Brasil.
Em 2023, a NetZero havia captado 11 milhões de euros junto a Stellantis, L’Oréal e CMA CGM para acelerar os negócios na região. Agora, com o STOA, os recursos serão direcionados, em especial, às metas de descarbonização.
Apesar de o fundo já investir em tecnologias de descarbonização e adaptação climática ‘maduras’, como energias renováveis, esse será o primeiro aporte para financiar uma empresa de biochar nos países emergentes, segundo Marie-Laure Mazaud, diretora geral do STOA.
Por Marcos Fantin — Globo Rural São Paulo