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Política

Farra com dinheiro público: Corolla alugado

26/10/2009 - Atualizado em 29/10/2009 00h46

Para que os vereadores realizassem a viagem a Barretos, foi alugado o automóvel Corolla, placa HJV 1975, de propriedade de Sérgio Luís Gomes Barbosa, diretor do departamento de Turismo da Prefeitura de Caratinga, por R$ 2.100,00.

Indagados sobre o motivo de não terem feito a viagem em seus próprios carros, ambos alegaram que os veículos não estariam em condições de fazer uma viagem tão longa.

De fato, a viagem foi bastante longa. Contando-se o percurso de Caratinga a Belo Horizonte, da capital mineira a São Paulo e de lá a Barretos, sem contar os deslocamentos em São Paulo e em Barretos, na viagem de ida e volta, foram percorridos mais de 2.600 quilômetros.

Quanto ao fato de ter sido alugado o automóvel de um funcionário comissionado da Prefeitura, quando existem várias locadoras na cidade e região, com preço bem mais baixo, Ricardo Gusmão afirmou que o veículo havia sido locado pela Câmara, anteriormente, para viagens a Belo Horizonte.

A versão foi desmentida pelo contador da Câmara de Caratinga, o qual afirmou à nossa reportagem que o referido veículo nunca havia sido contratado para servir à Casa, até então, e que só foi alugado, para esta viagem, atendendo pedido dos dois vereadores.

De acordo com o orçamento de uma locadora de veículos da cidade, a diária cobrada pelo aluguel de um Corolla, para uma viagem como a realizada pelos vereadores, seria de R$ 259,00, acrescida do seguro no valor de R$ 25,00 ao dia, o que daria um total de R$ 1.420,00, ou seja, R$ 680,00 a menos do que foi pago pela Câmara.

TELEFONE

De posse dos documentos solicitados à presidência da Câmara, foi possível constatar que os vereadores, usando a desculpa insustentável de que foram a São Paulo em busca da cópia de um projeto de lei, fizeram a viagem para participar da 54ª edição da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.

A relação das ligações telefônicas recebidas e realizadas pelos telefones usados pelos dois vereadores, os cupons fiscais referentes aos abastecimentos do carro e os recibos dos postos de pedágio provam que Ricardo Gusmão e João Angola mentiram, quando disseram que permaneceram em São Paulo durante aquele final de semana, e confirmam que estiveram em Barretos, que fica a 440 quilômetros da capital paulista, nos dias 21, 22 e 23, participando da festa e assistiram ao show de Roberto Carlos, no domingo, dia 23, fato confirmado por uma fonte, cujo nome A Semana prefere não revelar.

Durante a viagem, o telefone usado por Ricardo Gusmão - 9902-0981 - fez e recebeu, aproximadamente, 50 ligações, das quais 15 aconteceram nos dias 22 e 23, ocorridas na área de DDD 17, que abrange, entre outras, a cidade de Barretos. Por sua vez, o telefone usado por João Angola - 9902-9581 - realizou e recebeu 107 ligações, das quais 55 aconteceram quando ele estava na área de DDD 17. A área de DDD 17 abrange 117 municípios paulistas, sendo que o mais próximo da capital do Estado está a 385 quilômetros de distância. Os horários das ligações mostram que seria impossível eles terem pernoitado em São Paulo.

PEDÁGIOS E COMBUSTÍVEL

Os recibos de pedágio e os cupons fiscais dos postos de abastecimento de combustíveis permitem mapear o trajeto percorrido pelos vereadores durante a viagem.

Eles saíram de Caratinga, provavelmente, no início da madrugada do dia 21, para Belo Horizonte, uma vez que às 4h43min abasteceram o carro em Itatiaiuçu, já na Rodovia Fernão Dias (BR-381). Na sequência, passaram pelos pedágios de Carmópolis de Minas (6h03min), Carmo da Cachoeira (7h24min), São Gonçalo do Sapucaí (8h02min), Cambuí (9h02min) e Vargem (9h36min), a 99 quilômetros da cidade de São Paulo.

A ida para Barretos aconteceu no final da tarde de sexta-feira, 21. Às 18h34min eles passaram pelo pedágio de Itapevi, na Rodovia Castelo Branco (SP-280), a 33 quilômetros da capital. Seguindo pela mesma rodovia, passaram pelos pedágios de Boituva, Quadra e Itatinga, parando em Igaraçu do Tietê, às 22h04min, para abastecer o carro. Já na Rodovia Washington Luís (SP-310), passaram pelo pedágio de Araraquara às 22h24min. A seguir, pegaram a Rodovia Brigadeiro Faria Lima (SP-326), que leva até Barretos, passando, antes, pelos pedágios de Dobrada (22h34min) e Taiuva (23 horas).

Os vereadores permaneceram em Barretos até a manhã de segunda-feira, 24, isso é provado pela inexistência de recibos de pedágio e notas fiscais de combustível nos dias 22 e 23 de agosto.

Na manhã de segunda-feira, retornaram à capital paulista, fazendo uma rota diferente. Às 7h44min, cruzaram o pedágio de Taiuva e passaram pelo pedágio de Araraquara, às 8h22min, seguindo pela Washington Luís até Rio Claro (9h25min), retornando a São Paulo pela Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), passando pelos pedágios de Campo Limpo Paulista (10h10min), Itupeva (10h31min), Sumaré (10h50min) e Limeira (11h11min).

Eles permaneceram em São Paulo, onde pernoitaram, mas, não na Hospedaria Belamy, como quiseram provar através da nota fria. Na verdade, segundo nossa fonte, eles dormiram na casa de um irmão de João Angola e, na manhã da terça-feira, dia 25, retornaram a Caratinga, passando por Belo Horizonte.

A NOTA FRIA DA HOSPEDARIA

Na prestação de contas à Câmara de Caratinga, para reembolso da despesa durante a viagem, os vereadores apresentaram uma nota fiscal, emitida no dia 25 de agosto pela Hospedaria Belamy, localizada na Rua Brasílio Luz, 49, no Bairro de Santo Amaro, no valor de R$ 1.520,00, para pagamento de 16 diárias e alimentação. A existência dessa nota fiscal poderia confirmar a permanência dos vereadores na capital paulista durante o final de semana, porém, o álibi é falso. A nota fiscal é fria!

Tentando esclarecer o motivo das 16 diárias, os vereadores, mostrando insegurança, disseram que estavam acompanhados de Sérgio Antônio Condé, o Serginho da Santa Cruz, que foi motorista da viagem, e um amigo de Ricardo Gusmão, de nome “Everaldo”. Na verdade, a versão de que estariam em número de quatro pessoas é mentirosa. Eles eram três. Apenas Serginho viajou com os dois vereadores e, de fato, dirigiu o carro durante a viagem.

Entramos em contato telefônico com a hospedaria, sendo atendidos por uma senhora chamada Sônia, que passou a ligação para a pessoa que, supostamente, teria atendido os vereadores.

O funcionário afirmou lembrar que eles estiveram na pousada, mas não soube informar quantos dias ficaram hospedados. Solicitado que verificasse no registro de hóspedes, estranhamente, afirmou que não havia sido feito o registro. Vale frisar que é exigido de todos os hotéis, pousadas e hospedagem do País o registro das pessoas que neles se hospedam.

Não existe registro de hospedagem dos vereadores, no período em questão, em nenhum estabelecimento afim no Estado de São Paulo. Nem, mesmo, em Barretos, uma vez que, segundo informações obtidas por nossa reportagem, eles não encontraram vagas em hotéis ou pousadas e o dono de uma pousada providenciou para que eles ficassem hospedados numa casa de família. Jornal A Semana - Caratinga - www.asemanaagora.com.br - 26/10/09 - 21:58

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