SÃO JOÃO DO MANHUAÇU (MG) - A greentech franco-brasileira NetZero construirá sua terceira fábrica de biochar no Brasil, desta vez em São João do Manhuaçu, na Zona da Mata mineira. A empresa também fechou um novo contrato de exportação de café produzido com biochar. Por enquanto, o bioinsumo é feito com cascas do café, mas a startup prepara-se para levar o biochar para outras culturas, a começar pela cana-de-açúcar, a partir de 2025.
“Já temos conversas com grandes empresas de cana-de-açúcar. Eles têm um grande interesse no biochar”, afirma Olivier Reinaud, cofundador e diretor-geral da NetZero, sem dar mais detalhes.
Segundo Reinaud, as obras da nova fábrica já começaram e a unidade deve entrar em operação no início de 2025. A planta vai demandar investimento da ordem de R$ 20 milhões e terá capacidade para produzir 4 mil toneladas de biochar por ano. Com isso, a capacidade de produção da empresa no país crescerá 50%.
A nova unidade atenderá a região da Zona da Mata, mas a NetZero estuda implantar fábricas em outras regiões, de acordo com o empresário.
A companhia possui uma fábrica-piloto em Camarões e duas plantas no Brasil, em Lajinha (MG) e Brejetuba (ES), além de uma unidade em Machado (MG), em fase de licenciamento. A empresa recolhe cascas de café de produtores da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé) e usa como matéria-prima do biochar.
Ao mesmo tempo em que investe em nova fábrica, a Netzero também fechou um segundo contrato de exportação de café produzido com o biochar. Em uma parceria com EISA, a Nespresso, a Marubeni e outros, a empresa vai exportar dois contêineres de café. A NetZero já havia embarcado dois contêineres ao Japão, em outra parceria com a Coocafé e a Marubeni.
O biochar é um tipo de carvão vegetal feito da queima de biomassa, usado na correção de solo. O produto ajuda a reter água, nutrientes e carbono na terra, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Na produção de café, o biochar pode reduzir em até 33% o uso de fertilizantes químicos no solo.
A NetZero concluiu um estudo com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), sobre o impacto do biochar na produtividade das lavouras de café. A pesquisa foi feita em fazendas nos municípios de Lajinha (MG), Mutum (MG), Martins Soares (MG) e Afonso Cláudio (ES), onde foram plantados café arábica das variedades acauã, arara e catucai.
De acordo com o estudo, em Afonso Cláudio, a produtividade aumentou de 27,1% a 65,2%, chegando a até 18 sacas adicionais por hectare. Em Lajinha, a alta foi de 45,6% ou, 17,6 sacas por hectare a mais. Em Mutum, a produtividade cresceu 106% na primeira colheita (6,6 sacas por hectare). Em Martins Soares, o avanço foi de 46,9% (20,9 sacas por hectare). Os resultados variam de acordo com fatores como solo, clima e relevo. “Os resultados foram melhores do que esperávamos”, disse Reinaud.
Fundada em 2021, a NetZero captou em março 18 milhões com o fundo de investimento de impacto STOA. Em junho, captou R$ 13 milhões com a cooperativa holandesa Oikocredit, para apoiar a construção de fábricas no Brasil.