BELO HORIZONTE (MG) - Mais de 50 clientes que compraram ou venderam carros - na maioria luxuosos - junto a agência Prime Veículos BH denunciam golpes e fraudes. A empresa, que tinha sede em Belo Horizonte, fechou as portas em outubro do ano passado. O caso é investigado pela Polícia Civil de Minas, que apura crimes como furto, roubo e estelionato, até o momento.
O encerramento das atividades da agência, conforme advogados de clientes, ocorreu deixando um prejuízo milionário e ainda ‘incalculável’. No registro, a empresa tem o nome fantasia de 'Nova Automoveis LTDA'. O CNPJ estava ativo desde 1999, por meio de uma sociedade empresarial. As denúncias de quem teve problemas com a loja são diversas e estão reunidas em uma página no Instagram.
Há relatos de pagamentos que não foram efetuados de valores da venda de carros para a agência e da impossibilidade para transferir a posse de veículos após a compra. O empresário Rone Pereira, morador de Ipanema, na região Leste de Minas, acumula um prejuízo de R$ 500 mil. Ele entregou uma Chevrolet Silverado à loja em agosto. O acordo era de que a loja encontrasse um comprador para a caminhonete. O carro foi vendido por R$ 500 mil.
Entretanto, Rone denuncia que recebeu um cheque sem fundo como pagamento. “Eles me deram um cheque a prazo, sem fundo, e transferiram o carro sem eu assinar o recibo, sem reconhecer firma em cartório”, lamentou. “Eu comprei esse carro por R$ 509 mil e paguei no pix. A nota fiscal está no meu nome e da minha esposa. Eu espero que a Justiça me devolva o carro, porque não tem lógica. Eu não reconheci firma, não assinei o recibo”, completou.
A caminhonete, segundo Rone, foi vendida a um homem que teria um crédito de R$ 140 mil com a loja e fez um pagamento adicional de R$ 360 mil para adquirir o veículo. “Eu já tinha negociado com eles (donos da Prime) antes, não tive problema. Quando eu deixei o carro com eles, foram na minha casa buscar meia-noite”, relembrou Rone, que registrou boletim de ocorrência e abriu processo contra a Prime.
Operação semelhante
A prática de usar cheques sem fundo foi usada também com um morador de Divinópolis, na região Centro-Oeste de Minas, que preferiu não se identificar. O homem também deixou uma Range Rover na agência para venda consignada. O veículo ficou três meses na agência e estava avaliado em R$ 560 mil. O dinheiro seria utilizado para pagar dívidas de uma empresa familiar.
Com a demora da Prime Veículos BH em negociar o veículo, o homem relatou que procurou os sócios afirmando que tinha uma proposta de R$ 490 mil. “E aí eles ofereceram R$ 500 mil e aceitamos. A gente chegava na loja e via carro que normalmente você nem vê na cidade. O atendimento era perfeito. Isso criou uma fantasia na nossa cabeça”, detalhou o cliente.
Após a venda do veículo, ele informou que recebeu quatro cheques. Quando houve a tentativa de compensação da primeira folha pré-datada, não havia valor nas contas da empresa. Junto com a mãe, o homem foi à sede da agência e conseguiu uma parte do pagamento nos dias seguintes da conversa. O restante, no valor de R$ 386 mil, seria pago em um cheque previsto para outubro.
Processos e investigação
Em nota, o TJMG afirmou que há “dezenas de ações judiciais em que a empresa Nova Automóveis é ré”. Os autores das ações são pessoas físicas, como empresas e bancos, já que há relatos de que a loja estava contratando empréstimos, até mesmo com clientes, e não honrando com os compromissos.
À reportagem, um dos sócios da Prime Veículos BH afirmou que todos os compromissos serão honrados e que a empresa realiza um levantamento do valor da dívida. “A empresa está fazendo uma restauração das operações. Ninguém terá prejuízo. Os prazos para acertar as pendências serão divulgados oportunamente”, disse.
No Instagram, a empresa diz que encerrou o atendimento na loja física para reestruturar as operações. "Contudo, continuaremos atendendo de forma online e mediante agendamento. Todos os clientes que precisarem de atendimento podem continuar nos contatando por telefone, Instagram, e-mail, e Whatsapp". A legenda do post ainda diz que haverá abertura de uma nova loja.
O Tempo