Em Minas, são 3,9 milhões de motoristas legalmente habilitados – no ano passado foram emitidas ou renovadas 1,1 milhão de carteiras –, mas não há um levantamento de quantas CNHs ilegais são apreendidas ou continuam em circulação. Em Abre Campo, município de 12 mil habitantes, 100 moradores compraram CNHs nos últimos seis meses em Ferraz Vasconcelos (SP). O delegado Carlos Roberto Souza da Silva, responsável por outros cinco municípios vizinhos que totalizam 76 mil habitantes, identificou 300 CNHs compradas por intermédio de donos de auto-escolas de Ferraz Vasconcelos e de outras cidades paulistas, e 80 documentos ilegais já foram tirados dos candidatos a motoristas.
As carteiras eram vendidas a R$ 2 mil. Conforme apurado pela polícia, o comerciante preso levava os documentos dos candidatos a Mogi das Cruzes (SP), onde as CNHs eram feitas em espelhos verdadeiros e prontuários cadastrados no sistema, sem que nenhum candidato fosse a São Paulo para os exames psicológicos, psicotécnicos, de saúde, testes de legislação e direção.
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA
As carteiras emitidas pelas quadrilhas de outros estados não levantam suspeita numa fiscalização de trânsito, pois o papel é original, saído de dentro dos Detrans. Os motoristas também têm prontuários cadastrados nos bancos de dados dos órgãos de trânsito, inclusive com data da primeira habilitação e outros registros. “As carteiras totalmente falsificadas são de Minas Gerais. Aquelas ideologicamente falsas, expedidas pelos Detrans, mas sem as formalidades legais, são de outros estados”, afirma o delegado regional de Manhuaçu, Dr. Lourival Silva Pereira.
As falsificações só são descobertas quando os dados do documento são analisados detalhadamente. Em Abre Campo, por exemplo, muitos candidatos “comprovaram” o endereço residencial em Ferraz Vasconcelos, sem nunca terem ido àquela cidade paulista, pois geralmente as carteiras são compradas num município e emitidas em outro. Também chama a atenção da polícia o volume excessivo de carteiras expedidas por um único órgão de trânsito para uma determinada cidade. Ao contrário das CNHs fraudadas na Bahia, onde são adulterados prontuários de pessoas falecidas para gerar um registro falso, nas de São Paulo é possível encontrar a pasta e o prontuário do condutor, devidamente cadastrado no sistema.
CONEXÃO
No ano passado, segundo o delegado regional, duas quadrilhas foram desbaratadas em Belo Horizonte e 50 pessoas respondem processo por uso de documento falso. Cada acusado pode pegar de dois a seis anos de reclusão, que é a mesma pena para quem frauda as carteiras. “As quadrilhas tinham conexão em João Monlevade, Rio Casca, São Gonçalo do Rio Abaixo, Abre Campo e Barão de Cocais”, afirma o delegado. Uma das quadrilhas tinha participação de dois policiais militares e três civis. Em função dessas prisões, a PM foi orientada a consultar todos os dados da carteira em uma central a que só a Polícia Civil tinha acesso.
CASADINHA PAULISTA
Para combater fraudes, a direção do Detran/SP determinou uma mudança: desde o dia 4, as pessoas só podem tirar a habilitação na cidade onde o título de eleitor está cadastrado. O novo esquema, apelidado de casadinha, vincula os dois documentos. A medida foi tomada depois que foram identificadas irregularidades. Algumas carteiras revelam a fraude. Elas foram registradas no Detran de São Paulo. No papel, tudo correto: exames médicos e psicológicos e o teste de direção. Mas as investigações mostram que as pessoas nunca estiveram no estado para fazer as provas.
Carlos Henrique Cruz - 23/07/07 - 16:54 - portalcaparao@gmail.com