Engenheira sanitarista Alexandra Saraiva analisa material recolhido em Manhuaçu - Foto Maira Vieira (O Tempo) |
Segundo reportagem publicada nesta sexta-feira, 03, no Jornal O Tempo, a qualidade da água utilizada pela população de Manhuaçu será avaliada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A investigação irá esclarecer se a água que abastece o município está contaminada com agrotóxicos que podem provocar a incidência maior de casos de câncer.
De acordo com a pesquisadora e especialista em engenharia sanitarista Alexandra Saraiva serão coletados dados sobre a forma de tratamento da água - que é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde de Manhuaçu - e as condições da bacia hidrográfica do rio Doce, muito importante para a agricultura do café da região.
"A escolha do município ocorreu devido ao aumento significativo de casos de câncer na região. A suspeita do aumento da doença veio dos próprios moradores. Eles solicitaram a ajuda", explicou.
Segundo a Coordenadora do Programa de Vigilância do Câncer da Secretária Estadual de Saúde, Berenice Navarro Antoniazzi, mais do que detectar o aparecimento de casos de câncer em Manhuaçu, o estudo poderá definir as condições de consumo da água.
"Antes mesmo de diagnosticar neuplasias, a população pode ser afetada por doenças graves que podem culminar em sérios problemas de saúde. É importante avaliar o sistema de tratamento da água e formas para minimizar o surgimento de doenças, além da agressão ao meio ambiente pelos agrotóxicos", analisou Berenice.
A avaliação da água é a segunda etapa da pesquisa e deve ser iniciada até o final deste ano. Na primeira etapa do trabalho, os especialistas realizaram uma coleta de dados com os moradores e a Secretaria de Estado de Saúde. Os tipos de agrotóxicos usados pelos agricultores de café também foram investigados.
MORADORES
O agricultor José Antônio Soares, 50, está preocupado com as condições da água na região. O irmão dele, Claudionor Soares, morreu há um ano em decorrência de um câncer no pulmão. "Ele tinha 45 anos. Não acredito que a doença tenha sido por outro motivo se não a contaminação da água. Ele era saudável" relembrou.
Segundo a Coordenadoria de Vigilância Ambiental em Saúde, a água que abastece Manhuaçu e a zona rural da cidade é analisada periodicamente pelo município. Além disso, campanhas de conscientização quanto ao uso do agrotóxico na produção de café são realizadas com os produtores de toda a região.
LAVOURAS DE CAFÉ ESTÃO PERTO DOS MANANCIAIS
De acordo com o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Minas Gerais é o maior produtor nacional de café. A cidade de Manhuaçu, destaca-se de outros municípios do Estado pela expressiva produção do tipo de cultura. Em 2008, a safra foi de aproximadamente 24.000 toneladas de grãos beneficiados.
De acordo com Saraiva, a característica do relevo bastante montanhosa, pode favorecer a contaminação do solo e dos mananciais da região por agrotóxicos. “Acreditamos que, no período chuvoso, os produtos utilizados sejam carregados em direção às águas que abastecem a região”.
Segundo a Coordenadora de Vigilância Ambiental em Saúde de Manhuaçu, Emilce Fialho, muitas lavouras margeiam os mananciais e o principal rio da região, o Rio Doce.
“Nossa grande preocupação é alertar o produtor rural sobre os cuidados no manuseio de produtos químicos na lavoura e, principalmente, a forma que os trabalhadores irão dispensar os recipientes”, declarou. Segundo Fialho, em muitos casos, o rio é contaminado com a dispensa irregular dos vasilhames.
MINIENTREVISTA
Por que a escolha da cidade de Manhuaçu?
Escolhemos devido ao seu destaque na produção de café.
A produção está diretamente relacionada com os casos de câncer na região?
Na verdade, o que sabemos é que por ser uma cidade pequena, que está praticamente voltada para a agricultura, possui índices significativos de mortes por câncer. Isso nos chamou a atenção.
Em quanto tempo a pesquisa poderá provar se a água está de fato contaminada?
Ainda não podemos precisar quando teremos as confirmações, pois ainda não conhecemos o local exato onde pode estar correndo a contaminação. De qualquer maneira, já sabemos que o estudo terá resultados a médio e longo prazo.
Em quanto tempo o diagnostico de câncer poderá ser comprovado na população?
Estima-se que entre 20 e 30 anos a população possa apresentar a doença.
GABRIELA SALES – Jornal O Tempo