Cafeicultores de Manhuaçu e municípios próximos estão diversificando as atividades e assegurando outra fonte de renda. Além do café, cultura tradicional da região, eles estão investindo na caprinocultura de leite. Nos meios técnicos, a nova atividade é considerada ideal para o perfil da agricultura familiar, dona de propriedades pequenas de terra. Isso porque a criação de cabras não demanda grandes áreas de pastagens, nem muita mão de obra, podendo garantir um lucro fixo, sem comprometer a produção de café que, como apontam os especialistas, é sazonal e sofre as oscilações do preço de mercado. A experiência, considerada bem promissora, está sendo repetida em outros municípios da redondeza.
Uma vantagem, segundo extensionistas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), é que a cabra, por ser um animal rústico e dócil, não demanda muito trabalho e dispensa gastos com o pagamento de empregados. “São animais de fácil manejo. Todas as pessoas da família do produtor podem ajudar a cuidar delas, pois são bem dóceis. O que se gasta com uma vaca dá pra cuidar de quatro cabras”, afirma o técnico agropecuário da Emater de Santa Margarida, Lino Alberto Diniz. No município, um grupo de produtores locais se associaram a outros de São João de Manhuaçu e de Manhuaçu, e já estão produzindo cerca de 250 litros de leite por dia. A produção é toda vendida para um laticínio de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
“Estamos conciliando o plantio de café e a produção de leite de cabra. Nossa expectativa é dobrar o fornecimento, alcançando os 500 litros diários, a partir deste mês e até outubro”, confirma o cafeicultor e caprinocultor de Santa Margarida, Rivanildo Moreira, presidente da Associação dos Produtores de Córrego São Félix de Água Limpa. A instituição tem onze sócios produtores de leite caprino, incluindo o próprio Moreira.
Dono de uma propriedade de 18 hectares na zona rural de Santa Margarida, Rivanildo reservou três hectares para criar as 63 cabras que adquiriu. Segundo ele, os cafeicultores da associação estão vendendo o leite para a cooperativa fluminense a R$ 1,3 o litro. O produto é armazenado em um tanque de resfriamento coletivo, que fica na propriedade de Rivanildo. O equipamento conserva o leite até ser transportado para o fábrica em Nova Friburgo.
EXPANSÃO
Também em Simonésia, 12 produtores locais decidiram diversificar as atividades e partiram para caprinocultura de leite. Com recursos da linha de crédito Pronaf (individual), eles adquiriram um rebanho de 200 cabeças de caprinos e agora se preparam para vender o leite à mesma cooperativa de Nova Friburgo. E enquanto se organizam para a compra coletiva de um tanque de resfriamento de leite, parte do grupo comercializa o leite no mercado local a até R$ 3 o litro.
De acordo com o agrônomo da Emater local, Thiago Braga de Oliveira, o projeto começou há dois anos, após mobilizações promovidas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Simonésia, com o apoio e assistência da Emater. “Visitamos os municípios de Tombos, Carangola, Pedra Dourada e fizemos contato com a cooperativa de Nova Friburgo. O pessoal daqui preferiu a criação de cabras, pois o manuseio é simples. A própria família pode cuidar dos animais. Em confinamento, cada cabra ocupa apenas três metros quadrados”, explica. Ainda segundo Oliveira, como as cabras estão começando a produzir leite agora, a expectativa é que até novembro, os produtores já estejam preparados para comercializar o leite para a cooperativa do estado do Rio de Janeiro. Para o longo prazo, o grupo pensa em processar o leite no próprio município, segundo o extensionista.
Hoje no estado, segundo dados da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado de Minas Gerais (Caprileite), existem cerca de 200 produtores de leite de cabra. A maior concentração está na Zona da Mata. Também de acordo informações da entidade, Minas tem um rebanho de aproximadamente, 200 mil cabeças, entre caprinos para corte e para leite. Mas tudo indica que estes números vão subir.
Na avaliação da coordenadora de Caprinovinocultura da Emater, Cinthya Oliveira, o número de produtores de leite de cabra tende a crescer em todo o estado, com a portaria nº 1059 do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), de 27 de abril deste ano, que regulamentou o processo de pasteurização lenta do leite de cabra para consumo humano. “A tendência é que haja um aumento de produtores, pois a portaria legalizou a atividade e isso facilita a comercialização”, prevê. Antes desta legislação, segundo explica a coordenadora, a atividade só era legalizada por lei federal, que versava sobre a pasteurização rápida, processo que exige um volume grande de leite, exigência compatível com a produção bovina, mas incompatível com a caprina, que rende menos.
Com informações da Agência Minas