A 15ª edição do Simpósio de Cafeicultura surpreendeu pela excelente capacidade de renovação e o alto nível das palestras em Manhuaçu. Durante três dias, cerca de 800 produtores, técnicos e engenheiros agrônomos tiveram a oportunidade de participar de debates e mini-cursos, assistiram palestras e conheceram novidades e tecnologia para produzir mais, melhor e com respeito ao meio ambiente. Um dos focos principais da discussão foram as mudanças sobre o Código Florestal. Nas palestras e na fala de lideranças do setor ficou claro que é preciso manter boas práticas agrícolas aliadas à viabilidade econômica da cafeicultura.
A trajetória do Simpósio de Cafeicultura foi construída com uma significativa mudança da qualidade e da produtividade das lavouras cafeeiras da região das montanhas das Matas de Minas. Durante as palestras apresentadas neste ano, engenheiros e especialistas em cafeicultura mostraram resultados práticos de sucesso de aplicação de boas práticas agrícolas e de gestão que estão gerando retorno financeiro, com aumento na rentabilidade ou redução do desperdício.
A boa gestão foi o foco dos palestrantes Flávio Meira Borém que apresentou a necessidade de cuidados na lavoura e na pós-colheita para garantir cafés de qualidade e dos engenheiros Fabiano Tristão (Incaper/ES) e Christiano Nacif (Educampo/Sebrae) que mostraram a parceria agrícola e a gestão econômica da propriedade.
NEM VERDE, NEM CINZA
A ampla discussão sobre o Código Florestal teve como proposta a necessidade de garantir uma legislação que leve em conta a realidade regional. Para os participantes, as pequenas propriedades de agricultura familiar da região de Manhuaçu apresentam características muito distintas e isso não tem sido considerado. A idéia é a defesa de um código que atenda aos interesses ambientais, mas mantenha a sustentabilidade do agronegócio café.
Como a conservação da reserva legal nas propriedades rurais é uma questão que atende os interesses da sociedade é preciso que haja uma contrapartida para haver esforço dos agricultores, segundo a engenheira florestal e consultora, Maria José Zakia, que palestrou no final da manhã do segundo dia. “A verdade é que se a gente quiser reverter essa situação de cobertura vegetal, aumentar onde nós desmatamos demais e não cometer os erros do Sul e do Sudeste na Amazônia, a gente precisa transformar a propriedade rural em parceira da conservação.”
Apesar de destacar que a vegetação nativa desempenha papel importante na produção agrícola, Zakia avalia que pequenos agricultores podem ter a sensação de “perda” com parte da área da propriedade destinada à preservação. Para contornar isso, “para incentivar que essa preservação seja um produto do bom manejo, é preciso instrumentos como o pagamento por serviços ambientais, não só instrumentos de comando e controle”.
Porém, ela lembra da importância de fazer a diferenciação entre os proprietários que desmataram quando ainda era permitido e os que fizeram após haver a proibição legal. “Durante muito tempo nós tratamos os proprietários rurais como bandidos ou delinquentes, nos esquecemos de que durante muito tempo o desmatamento foi muito incentivado.”
Segundo ela, a proposta de mudança do Código Florestal Brasileiro peca justamente nesse ponto ao desobrigar a recomposição da reserva legal para quem derrubou a mata até 2008, após a proibição. “Eu não posso transformar em parceiro alguém que agiu errado”, destacou.
Zakia concorda que há a necessidade de incentivar a recomposição e preservação das áreas de mata pelos produtores rurais. Entretanto, ele considera que a melhor maneira de incentivar os produtores a manter a reserva legal é fornecer subsídios para que se possa fazer uso econômico da mata. “O caminho que nós defendemos é a produtividade conciliada com a preservação da natureza.”
RESFRIAMENTO GLOBAL
Com 40 anos de experiência em estudos do clima no planeta, o meteorologista da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Carlos Molion apresentou durante o Simpósio de Cafeicultura o discurso inverso ao apresentado pela maioria dos climatologistas. Representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Molion assegura que o homem e suas emissões na atmosfera são incapazes de causar um aquecimento global. Ele também diz que há manipulação dos dados da temperatura terrestre e garante: a Terra vai esfriar nos próximos 20 anos e não vai haver um aquecimento global.
A palestra dele abordou impactos do clima na produção cafeeira da região, alertando inclusive para as geadas em algumas regiões mais altas nos próximos anos.
MERCADO
O Simpósio de Cafeicultura de Montanha foi aberto com uma discussão sobre o mercado e as pespectivas para o preço do produto nos próximos anos. O assunto foi debatido pelo Secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais Elmiro Nascimento, o Diretor da FAEMG João Roberto Puliti, o Presidente da Sincal Armando Matielli e o Presidente do Incaper/ES Evair Vieira de Melo.
Armando Matielli, presidente da Sincal - Associação dos Sindicatos Rurais das regiões produtoras de Café e Leite, argumenta que o produtor é mal informado e mantido na marginalidade. “Ele não aproveita os bons preços e a qualidade, pois se conspira contra o produtor rural. Há uma verdadeira guerra da omissão para mantê-lo na ignorância, de modo a não ter conhecimento para exercer seus direitos de vender seu produto com preços adequados. Tanto no aspecto qualidade, quanto no pós-porteira de modo geral, o cafeicultor está abandonado. Dentro da cafeicultura especialmente, onde reina uma determinada máfia mercadológica, quanto mais ignorante o produtor, melhor para o comprador. É assim que tem ocorrido nos últimos tempos”.
Matielli diz que é preciso dar mais informações aos produtores, como o Simpósio de Cafeicultura conseguiu ao longo de quinze anos: “O que eu acho é que os sindicatos rurais deveriam estar avisando seus produtores, fazendo reuniões e mostrando que existem diversas opções para melhorar o preço. A bolsa, por exemplo, é uma boa estratégia para ver o mercado futuro. Infelizmente, contudo, eu percebo que nossos sindicatos de produtores rurais estão configurados mais ou menos como os produtores. Presidentes dos sindicatos rurais são verdadeiros capachos dos sistemas e das federações. Por míseros reais que as federações repassam aos sindicatos, eles se mantêm omissos e à mercê dessas federações que infelizmente não tem cuidado da agricultura como deveriam cuidar. Está acontecendo um fato que deveria melhorar as informações via sindicatos, que são a verdadeira casa do produtor. E as cooperativas também poderiam fazer isso, mas grande parte delas estão é a serviço das multinacionais para repassar os insumos e são preparadoras de café para exportadores ou meras exportadoras. Muitas cooperativas que deveriam manter seus produtores muito bem informados, hoje jogam contra os produtores e fazem o verdadeiro papel de madrasta dos cafeicultores brasileiros”, argumentou.
RESULTADOS
O Simpósio de Cafeicultura foi encerrado com avaliação muito positiva. O Presidente da ACIAM, organizadora do evento, Antônio Carlos Xavier da Gama, e o Prefeito Adejair Barros entregaram ao cafeicultor Alexander Luiz Marques um certificado de reconhecimento pela premiação do café da Fazenda Cachoeira Alta, de Geraldo Antônio da Paixão, no Concurso de Qualidade de Cafés Especiais do Brasil. Ele foi citado como exemplo pelo presidente Toninho Gama da qualidade reconhecida do café da região.
O dirigente ainda elogiou a excelente participação de produtores durante o simpósio. “O público correspondeu às nossas expectativas, mesmo com a chuva forte do primeiro dia. Durante as palestras, debates e nos estandes houve uma participação bastante expressiva, mostrando que o evento se renova a cada edição, atraindo o interesse constante dos cafeicultores”, destacou.
O 15º Simpósio de Cafeicultura conseguiu promover a integração dos diversos segmentos do agronegócio do café numa discussão de alto nível. “As palestras confirmaram a qualidade do evento. O público aprovou os temas e participou da ampla discussão sobre boas práticas agrícolas, qualidade, produtividade, meio ambiente, café e sua viabilidade econômica. Mostramos que é possível produzir com qualidade e garantir sustentabilidade do grão à xícara”, ressaltou o vice-presidente da Federaminas, André Farrath.
Carlos Henrique Cruz / Jailton Pereira - portalcaparao@gmail.com