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Advogado é preso por manter empregados em regime de "escravidão"

03/10/2007 - Atualizado em 07/10/2007 11h29
  Denúncia de trabalho escravo levou agentes do Ministério do Trabalho e Policiais Militares até um sítio na região do Córrego Criciúma, na zona rural de São João do Manhuaçu, onde 22 pessoas acusam de estarem sem receber, sem contrato de trabalho, sem carteira assinada e em condições sub-humanas. O dono da propriedade José Pereira afirma que os trabalhadores pararam de colher o café e desmente a acusação de que trabalham sob regime de escravidão. Os 22 adultos e 9 crianças foram trazidos para Manhuaçu nesta quarta-feira. A agência do Ministério do Trabalho começou a confecção das Carteiras de Trabalho e planeja a rescisão para que possam voltar para a Bahia.   A ação do Ministério do Trabalho começou logo cedo. Os agentes foram até a fazenda e encontraram condições bastante precárias. “Atendendo a denúncias dos trabalhadores fomos até a fazenda e constatamos situações análogas a escravos, tais como, funcionários trabalhando há quatro meses sem receber, condições precárias de alojamentos, falta de equipamentos de proteção individual e sem assinatura de contrato de trabalho, a maioria nem tem carteira de trabalho ainda”, afirmou o fiscal do Trabalho Flávio Pena.

Segundo Pena, até então não havia histórico de caso tão complicado envolvendo a exploração do trabalho na região de Manhuaçu

Os 22 funcionários vieram para Bahia para São João do Manhuaçu e procuraram José Pereira para trabalhar na lavoura. “Eles terão direito a seguro desemprego, iremos fazer as carteiras de trabalho e vamos elaborar os contratos de trabalho e a rescisão. O acerto disso vai permitir que até o final de semana eles recebam e possam voltar para o estado da Bahia.

Sargento Martinho, Comandante do Destacamento de São João do Manhuaçu, explicou que o procedimento foi a condução dos envolvidos para a delegacia e o enquadramento ficou a critério do Juiz e do delegado.

AGRICULTOR NEGA "ESCRAVIDÃO"

  José Pereira admitiu que estava com esses 22 baianos em seu sítio. “Eles vieram da Bahia e procuraram emprego na minha lavoura. Vieram por conta própria e aqui me pediram serviço. A maioria não tem carteira e combinamos que iriam trabalhar até o dia 10. Só que semana passada, eles resolveram cruzar os braços e queriam receber. Eu não paguei porque não tinha dinheiro no final do mês e pedi que esperassem A minha surpresa foi esse ato deles agora”, afirmou o agricultor

Segundo ele, os empregados sabiam que iriam receber ate o dia 10. José Pereira ainda afirmou que desconhecia as condições precárias de trabalho. “Eles tinham a estrutura toda, com cama, luz e banheiro, mas podem ter retirado agora para enganar o Ministério do Trabalho e prejudicar ainda mais”, justificou.

Ele também falou que todos os direitos dos trabalhadores serão quitados. “Infelizmente, o preço do café não está compensando e muitas vezes os produtores têm que cometer esses deslizes. A maioria dos produtores faz isso e com certeza eles me compreendem. Agora só me resta pagar por ela”.

RECIBOS

Segundo o delegado Getúlio Lacerda, esteve na propriedade com a perícia e a história realmente mostra situações análogas ao trabalho escravo: “Percebemos que eles não estavam podendo sair da propriedade: porque não tinha dinheiro e ele proibia. Notamos condições muito precárias com pessoas dormindo praticamente no chão e, além disso, apreendemos vários recibos”.

Um dos lavradores contou que o agricultor fazia uma lista do que eles precisavam, ia até o distrito de Realeza e fazia a compra. “Tudo o que ele comprava, juntava os recibos porque iria descontar deles, apesar de que estavam trabalhando e ainda não haviam recebido. Nas contas que encontramos, o pessoal tinha que assinar as notas”, afirmou o delegado. Até mesmo as luvas e botas para colher o café eram cobradas dos empregados.

O grupo de trabalhadores ainda tinha nove crianças. “Duas delas, de 14 e 15 anos, estavam trabalhando na lavoura de café”, afirma o delegado.

A denúncia de trabalho escravo foi descoberta quando três conseguiram sair da fazenda e foram até a Polícia Militar em Realeza.

BANANA E ABACATE

Um dos trabalhadores Lucas Pereira de Jesus conta que vieram para a região de Manhuaçu para trabalhar. “Ele conta que uns tinham colchões, mas que eles mesmos compraram. Não havia água quente para o banho e, em alguns, nem os chuveiros”, afirmou. Ele disse que tiveram que comer bananas e abacates para não passarem fome.   Jailton Pereira - 03/10/07 - 05:18 - Atualizada 12:06 - portalcaparao@gmail.com 

 

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