Segundo Pena, até então não havia histórico de caso tão complicado envolvendo a exploração do trabalho na região de Manhuaçu
Os 22 funcionários vieram para Bahia para São João do Manhuaçu e procuraram José Pereira para trabalhar na lavoura. “Eles terão direito a seguro desemprego, iremos fazer as carteiras de trabalho e vamos elaborar os contratos de trabalho e a rescisão. O acerto disso vai permitir que até o final de semana eles recebam e possam voltar para o estado da Bahia.
Sargento Martinho, Comandante do Destacamento de São João do Manhuaçu, explicou que o procedimento foi a condução dos envolvidos para a delegacia e o enquadramento ficou a critério do Juiz e do delegado.
AGRICULTOR NEGA "ESCRAVIDÃO"
José Pereira admitiu que estava com esses 22 baianos em seu sítio. “Eles vieram da Bahia e procuraram emprego na minha lavoura. Vieram por conta própria e aqui me pediram serviço. A maioria não tem carteira e combinamos que iriam trabalhar até o dia 10. Só que semana passada, eles resolveram cruzar os braços e queriam receber. Eu não paguei porque não tinha dinheiro no final do mês e pedi que esperassem A minha surpresa foi esse ato deles agora”, afirmou o agricultor
Segundo ele, os empregados sabiam que iriam receber ate o dia 10. José Pereira ainda afirmou que desconhecia as condições precárias de trabalho. “Eles tinham a estrutura toda, com cama, luz e banheiro, mas podem ter retirado agora para enganar o Ministério do Trabalho e prejudicar ainda mais”, justificou.
Ele também falou que todos os direitos dos trabalhadores serão quitados. “Infelizmente, o preço do café não está compensando e muitas vezes os produtores têm que cometer esses deslizes. A maioria dos produtores faz isso e com certeza eles me compreendem. Agora só me resta pagar por ela”.
RECIBOS
Segundo o delegado Getúlio Lacerda, esteve na propriedade com a perícia e a história realmente mostra situações análogas ao trabalho escravo: “Percebemos que eles não estavam podendo sair da propriedade: porque não tinha dinheiro e ele proibia. Notamos condições muito precárias com pessoas dormindo praticamente no chão e, além disso, apreendemos vários recibos”.
Um dos lavradores contou que o agricultor fazia uma lista do que eles precisavam, ia até o distrito de Realeza e fazia a compra. “Tudo o que ele comprava, juntava os recibos porque iria descontar deles, apesar de que estavam trabalhando e ainda não haviam recebido. Nas contas que encontramos, o pessoal tinha que assinar as notas”, afirmou o delegado. Até mesmo as luvas e botas para colher o café eram cobradas dos empregados.
O grupo de trabalhadores ainda tinha nove crianças. “Duas delas, de 14 e 15 anos, estavam trabalhando na lavoura de café”, afirma o delegado.
A denúncia de trabalho escravo foi descoberta quando três conseguiram sair da fazenda e foram até a Polícia Militar em Realeza.
BANANA E ABACATE
Um dos trabalhadores Lucas Pereira de Jesus conta que vieram para a região de Manhuaçu para trabalhar. “Ele conta que uns tinham colchões, mas que eles mesmos compraram. Não havia água quente para o banho e, em alguns, nem os chuveiros”, afirmou. Ele disse que tiveram que comer bananas e abacates para não passarem fome. Jailton Pereira - 03/10/07 - 05:18 - Atualizada 12:06 - portalcaparao@gmail.com